C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ... · Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (2024)

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (1)

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)379‐423—ISSN:0874‐5498

C.Morais,L.Hardwick,andM.deF.Silva, (Eds.). (2017).Portrayalsof

Antigone in Portugal 20th and 21stCenturyRewritings of theAntigone

Myth. Leiden: BrillAcademic Pub., Series:Metaforms, Studies in theReception of Classical Antiquity, Vol 9. Hardcover: 361 pages. ISBN‐

10:900434005X;ISBN‐13:978‐9004340053

MARIAFERNANDABRASETE1(UniversidadedeAveiro—Portugal)

SobachanceladaprestigiadaeditoraBrillAcademicPub.,ovolume

emepígraferepresentaoculminardeumalongaeaturadainvestigaçãoem‐

preendidaporacadémicosdevárias instituiçõesuniversitárias,nacionaise

internacionais, sobreasdenominadasAntígonasportuguesas.É inegávelo

valorcientíficoeaimportânciadapresenteobra,centradanareceçãodomito

deAntígonanadramaturgiaportuguesadosséculosXXeXXI,comomérito

acrescidodese tratardeumapublicaçãoem língua inglesa,acessível,por

isso,aumpúblicoleitormuitodilatado.

Vale a pena referir que, sobre a temática em apreço, fora já

desenvolvido,emPortugal,Espanha,FrançaeReinoUnido(nomeadamente

emOxford)um sólido trabalhode investigação quedeu origem a várias

publicaçõesinternacionais(citadas,nap.2daIntroduction).Nonossopaísem

particular,remontamaoanode2001,duaspublicaçõesespecíficasquerastre‐

aram e analisaram asvárias reescritasdramatúrgicasdomitoda filhade

Édipo: a obra Representações de teatro clássico no Portugal Contemporâneo,

coordenadaporMariadeFátimaSousa eSilva,que,noVolume II (2001,

pp.40‐80),davanotíciadasrepresentaçõesdeAntígonas(sofocliana,portu‐

guesaseestrangeiras)nospalcosnacionais,aolongodoséculoXX;eosuple‐

menton.º 1da revistaÁgora.EstudosClássicos emDebate, coordenadopor

CarlosMorais,comosugestivotítuloMáscarasPortuguesasdeAntígona,que

compreendia,pelaprimeira vez, sete estudosde conceituados classicistas

portuguesessobreseispeçasdedramaturgosnovecentistas.Comoseriade

esperar,ainclusãodessesestudosnaobraemapreçoimplicouumareformu‐

laçãocondizentecomosobjetivoseaorganizaçãodestapublicaçãoemlíngua

inglesa.

Muitofelizeexpressivafoiaopçãodeseinserirnacapaduradolivro

ailustraçãodeumarepresentação,ocorridaamaiode2003,dapeçaAntígona

1[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (2)

380

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

—glosadatragédiadeSófocles,deAntónioPedro,levadaàcenapeloTeatro

ExperimentaldoPorto(TEP).Noseutodo,aobradáprovasdeumesmerado

trabalhodeedição,pautadoporgranderigorcientíficoemetódico,levadoa

cabopelaProfessoraEméritadaUniversidadedeOxford,LornaHardwick,

umaespecialistaderenomenodomíniodosestudosdereceçãoclássica,em

colaboraçãocomosdoisclassicistasportugueses,quemaissetêmdedicado

aoestudodareescritacontemporâneadomitodeAntígona:CarlosMorais,

ProfessordaUniversidadedeAveiro,eMariadeFátimaSilva,Professorada

UniversidadedeCoimbra.

Novaliosoestudointrodutório(pp.1‐10),assinadopelostrêseditores,

enquadra‐seomitodeAntígona,em linhassucintas,no teatroateniensedo

séculoVa.C,pararealçaraautonomiaqueoseucarátergranjeounatragédia

homónima de Sófocles, fazendo‐se depois referência aos quatro principais

mitemas(dosseisestabelecidosporFraise(1973))quesustentamasapropri‐

açõesalegóricasdomitoemPortugal.Atendendoaonúmerosignificativode

peçascontemporâneas inspiradasnafiguramodelardafilhadeÉdipo,bem

comoaospertinentesestudosqueclassicistasportugueseseestrangeiroslhe

dedicaram,entenderamoseditoresqueaproduçãodestevolumesejustificava,

nãosópelointeressequeatemáticatemdespertadonacomunidadeacadémica

aolongodasúltimasdécadas,mastambémportornaracessívelaumpúblico

maisalargadooinegávelvalordasreescritasdomitodeAntígonanadrama‐

turgiaportuguesa contemporânea, inspiradasno arquétipo sofocliano,mas

ondesefundem,porvezes,outrasfontesmaisrecentes,devidoaumfecundo

processodecontaminatio.Asoportunasreferênciassinópticasàestruturado

livro, completadas depois por uma excelente contextualização das onze

recriaçõesdramatúrgicasdo“motivo”deAntígonaemPortugal,constituem

umoutroméritodaparteintrodutóriodopresentelivro.

Dezoitoensaiosdãocorpoaoutrostantoscapítulosqueseencontram

distribuídosporduaspartes:I.“MainSources”,(pp.13‐109);II.“Portuguese

ReceptionofAntigone(20th‐21stCenturies)”,(pp.111‐312).

A secção inicial “Main Sources” compreende seis estudos sobre as

fontes.Aabrir,umestudosobreohipotextogrego, intitulado“Sophocles’

Antigone” (pp. 11–26), onde Rosa Andújar e Konstantinos Nikoloutsos,

depoisde contextualizaremapeça ede realçaremaatitude inovadorade

Sófoclesemfacedaconhecidatradiçãomítica,analisamtrêstemasqueconsi‐

deram ser osmais influentes na receçãomoderna, e particularmente nas

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (3)

Recensõesenotíciasbibliográficas

381

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

reescritas portuguesas e brasileiras: “Tiranny and Oposition to Power”,

“Death and Isolation”, “Divine Law and Secular Order”. No capítulo

seguinte,LornaHardwick,sobomesmotítulodadoaovolumeemrecensão,

“PortraitsofAntigoneinPortugalandBrazil:TheReceptionofAntigonein

the 20th and 21st Centuries” (pp. 27‐42), começa por evocar a presença

regularqueasrepresentaçõesdedramasGregostiveramnospalcoseuropeus

eamericanosdoséculoXIX.Seguidamente,procedeaumanotávelanálise

interpretativa das “múltiplas avenidas” (p. 33) que se entrecruzaram no

complexoprocessodereceçãodapeçaemtodoomundo,sebemquecom

especialincidêncianaEuropa.Nasendadeoutrosconsagradosespecialistas

quecita,postulaaideiadequearetomadotemadeAntígonateráoriginado

um “novo humanismo” (p. 36) com caraterísticas universais, um modo

peculiardeohomemsepensarcriticamentenasmaisdiversasáreasdavida.

Ostrêscapítulosqueseseguemapresentamumareflexãocríticasobre

o temadeAntígona nadramaturgia francesamoderna e contemporânea,

atendendo à influência que essas reescritas exerceram nos autoresportu‐

gueses.Nocapítulo3,oestudodeStéphanieUrdicianofereceumasíntese

muitopertinente e rigorosamente fundamentadada “geneologiadeAntí‐

gona”nadramaturgiafrancesa,comooprópriotítuloanuncia:“Antigone’s

French Genealogy” (pp. 43–56). No ensaio deMaria do Céu Fialho, no

capítulo 4, intitulado “JeanCocteau andOedipus’Daughter” (pp. 57‐71),

discute‐se,numaanálisebem contextualizada edocumentada,a recriação

inovadoradodestinotrágicodafilhadeÉdipo,numaAntigoneinspiradaem

Sófocles,mas provocadoramente distanciada das leituras tradicionais do

mito.Igualmentenoâmbitodadramaturgiafrancesa,oensaiodeMariade

FátimaSilva,sobotítulo“JeanAnouilh’sAntigone:AFree“translation”of

Sophocles”(pp.72‐89),recuperaoutraAntígonafrancesaemblemática:ade

Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh

introduziunasua reescritada tragédiagrega,paraqueossignificadosdo

mitoseajustassemàépocadedecadênciaedepós‐guerraqueentãosevivia

emFrançaenaEuropa.Oúltimocapítulodaprimeirasecçãodolivro,tem

comoautoresdois especialistas espanhóisbem conhecidosnoâmbitodos

estudosdereceçãoclássica,AndrésPociñaeAuroraLópez,quefocamasua

análisenapeçaescritaporumafilósofaespanholaderenomeinternacional:

MaríaZambrano.Assim,noestudo“SevenReflectionsonMaríaZambrano’s

LaTumbadeAntígona (Antigone’sTomb)”, (pp.90‐109),apeça,originaria‐

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (4)

382

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

mentepublicadanoMéxicoem1967,éanalisadacombaseemsetetópicos:

“Studies before 2012”, “An Unacceptable Negleted”, “Na Essentially

DramaticText:AntigoneinMariaZambrano”,“LaTumbadeAntigonaasa

DramaticText”,“Characters,Monologues,Dialogues”,“AntigonaConfron‐

tingPower:TheTimeofAntigoneandtheTimeofZambrano”e,porúltimo,

“MariaZambrano’sAntigoneandSomeLaterOthers”.Osautoresconcluem

oseuestudoexpressandoaopiniãodequeépossíveladmitirainfluênciada

Antígona de Zambrano em duas peças portuguesas: Perdição, de Hélia

Correia,eAntesqueaNoiteVenha,deEduardaDionísio.

Asegundaeúltimasecçãoéinteiramentededicadaàsonzereleituras

dotemadeAntígonanadramaturgiaportuguesa,queabrangemosséculos

XXeXXI.Os12capítulosqueacompõemapresentam‐nosestudossobredez

peçasdeoitoautoresportugueses,publicadase/ourepresentadas,maiorita‐

riamente,aolongodoséculoXX,alémdarecriaçãofílmica,deJoãoCanijo,

emGanharaVida(2001).

Como esclarecem os editores na “Introdução”, a organização dos

capítulossegueaordemcronológicadostextos(p.4),apesardeaobracine‐

matográficade JoãoCanijoaparecer localizadanadécadade60,porqueo

argumentodofilmeseenquadranocontextodaemigraçãoportuguesaque

marcouessaépoca.

Naimpossibilidadededarconta,numtextoderecensão,dariquezade

conteúdocontidaemtodososestudos,limitar‐me‐eiaindividualizarascon‐

tribuiçõesdosváriosautores,fazendoapenasbrevesreferênciasàspeçase

aostemastratados.

Tendoemconsideraçãooproeminentesignificadopolíticodequeo

mito de Antígona se revestiu no tempo da ditadura salazarista, os sete

primeiroscapítulos(7‐13)incidemsobreaanálisedas“peçasderesistência”

deAntónioSérgio(1930,c.1950,1958),JúlioDantas(1946),AntónioPedro

(1953)eMárioSacramento(1958).

CarlosMoraisapresentatrêsestudosmuitobemcontextualizados,que

denotamumareflexãoprofundaesistematizada,sobreasduasprimeirasAn‐

tígonas portuguesas do séculoXX: “António Sérgio’sAntígona: “a social

studyindialogueform””(pp.111–139);e“AntónioSérgio’sAntigoneRevi‐

sited: Two Invectives against the Salazar Dictatorship” (pp. 140‐159) e

“TakingLiberties:AntónioPedro’sRecreationofAntigone” (pp.175‐191).

Uma importante análise do enquadramento estético‐teatral da peça de

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (5)

Recensõesenotíciasbibliográficas

383

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

AntónioPedro,Antígona:GlosanovadatragédiadeSófocles,representadapela

primeiravez,eaclamadapelacrítica,em1954,éposteriormenteapresentada

por InêsAlvesMendes,em“AntígonabyAntónioPedro:Dialogueswith

EuropeanAestheticCurrents”(pp.192‐206).Oregressoaomitonodramade

JúlioDantasmereceumexamerigorosoebemfundamentado,daautoriade

MariadoCéuFialho,numensaiointitulado“JúlioDantas’Antigone:Orthe

MartyrofLateRomanticism”(pp.160–174).Retomandoasreescritasdestes

dois autores,Mariade Fátima Silva concentra a sua análisena figurado

tirano,no ensaio intitulado“Creon, theTyrantofAntigoneonStage:His

Reception in Júlio Dantas and António Pedro during the Portuguese

Dictatorship” (pp. 207‐221), em que se propõe investigar o paralelismo

existenteentreoarquétiposofoclianoeasrepresentaçõesportuguesasdessa

personagemprofundamente simbólicanoperíododaditadura salazarista.

Umprocessode reescritado temadeAntígonamaisdistantedomodelo

sofoclianotransformaapeçaemumatodeMárioSacramentonumdramade

pendor filosófico, em que a resistência se torna um elemento dramático

duplamente significativo, como procura demonstrar o estudo, intitulado

“Antigone:CodeName–MárioSacramento’sOne‐actPlay”(pp.222‐238),da

autoriadeMariaFernandaBrasete.

Nocapítulo13,“’LikeaGhostofAntigone’:GanharaVida(Getalife),

by João Canijo” (pp. 222–238),Nuno Simões Rodrigues empreende uma

análisedofilmeportuguês,descritopeloprópriodiretorcomo“aghostof

Antigone”(p.240),eemqueopathosdaprotagonistacontrastacomaatitude

resignada dos seus congéneres emigrantes portugueses da década de 60,

numahistóriaquetrazàlembrança,sebemdeumaformaindiretaesimbó‐

lica,atradiçãomitográficaetrágicadeAntígona.

OexcelenteensaiodeÁliaRosaRodrigues(“Antigone,Daughterofthe

D’Annunzian Oedipus. The Oedipus Trilogy (1954) by Castro Osório”,

(pp.251‐264))dáaconhecerumaoutraAntígona(1954)portuguesa,integrada

naTrilogiadeTróiadeJoãoCastroOsório.ComodeclaraaA.,oseuobjetivo

principal é analisar os traços absolutamente singulares que marcam esta

recriação domito, numapeça que nunca alcançou opalco,demonstrando

“how theclassicparadigma isconsidered tobe themodel for the so‐called

“NewHumanism” ou “New Era”, a twenties fashionable European ultra‐

nacionalism topicwhich is also present throuhoutCastroOsórios’swork”

(pp.251‐2).

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (6)

384

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

Nos dois capítulos que se seguem, respetivamente intitulados

“Antigone,FruitofaTwistedVine:HéliaCorreia’sPerdição”(pp.265–284)e

“ABrief“Antigone”:EduardaDionísio’sAntesqueanoitevenha(BeforetheNight

Comes)”,(pp.285–30),MariadeFátimaSilvaocupa‐sededuaspeças,escritas

pormulheres,ecujasheroínas femininasseapresentammuitosdiversasda

Antígonareferencial.Ambasaspeçasforamobjetoderepresentação,masterá

sido a de EduardaDionísio (Antes que a noite venha) a quemaior sucesso

alcançounospalcosportugueses.Poroutrolado,odramadeHéliaCorreia,

umaadmiradora incondicionaldoantigo teatroclássico, revelauma leitura

muitoatentadamatrizsofocliana,masempreendeum“exercício”dramatúr‐

gicoquenadatemdeconvencional,ecujaprotagonistaérecriadadeummodo

absolutamenteinovador,combasenumabemtecidamalhadeintertextuali‐

dadeemquealiçãodomitogregosefundecomoutrasleiturasmaisrecentes,

possivelmenteprovenientesdasversõesdeAnouilhedeMaríaZambrano.

Noúltimo capítulo (“MythandDystopia:AntígonaGelada (Frozen

Antigone) by Armando Nascimento Rosa”, pp. 305–312),Maria do Céu

FialhoprocedeaumaanálisedeumaúltimaAntígonaportuguesa:apeçade

ArmandoNacimentoRosa, intituladaAntígonaGelada(2007).Apesardese

pressentirnestedramaapresençadatradiçãomitológicamilenar,trata‐sede

uma releitura “futurista”domitodeAntígona, simbolicamenteprojetado

numa(ante)visãodistópicaedesumanizadadostemposvindourosemqueo

imaginárioutópicosealiaàficçãocientíficanumahistóriaambíguaemque

odestinomíticoparececongelado.

Na“Conclusão”(pp.313‐15),oseditoressalientamaimportâncialite‐

rária,estética,ideológicaeteatralqueomitodeAntígona,imortalizadopor

Sófocles,alcançounopanoramadadramaturgiaportuguesacontemporânea,

eemespecialoindiscutívelvalorsimbólico‐políticoqueconquistoudurante

operíododeditaduradoEstadoNovo.Fazendoumaapreciaçãoclaramente

elogiosa desta obra, que oferece ao leitor uma visão rigorosa das várias

“máscaras”dasAntígonasportuguesas,oseditoresfinalizamcomaideiade

quesejacomo“resistente”,como“mártir”ousimplesmentecomo“mulher”,

Antígonapermanecerácomo“opêndulodomundo”,citandoaspalavasde

MargueriteYourcenar.

Aenriquecerestaobraeafacilitarasualeituraporpartedopúblico

especializadooudoleitorcomum,encontra‐se,nofinaldovolume,ummuito

útilAppendixque compreendeuma “Cronologiadas recriações, edições e

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (7)

Recensõesenotíciasbibliográficas

385

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

performances” (pp. 316‐320), seguida de uma Bibliografia seleta única,

repartidaem“Editionsandtranslations”,“RewritingSophocleanAntigone”

e“Websites”.A fecharo livro,dois Índices cuidadosamente elaborados e

apresentados:umIndexLocurum,seguidodeum“IndexofSubjects”.

Noseuconjunto,estaobra,primorosamenteorganizada,impõe‐seno

domíniodosestudosdereceçãoclássicapelorigorcientíficocomqueatemá‐

ticacativantedaescritaerescritadramatúrgicasdomitodeAntígona,um

dosmais fascinantes e paradigmáticos do imaginário ocidental, é ampla‐

mentetratada.Aqualidadedosestudosapresentadosemlínguainglesa,que

revisitamcomnotávelentusiasmoeprofundidadedeanáliseadramaturgia

portuguesadosséculosXXeXXIsobreomitodeAntígona,parecejustificar

quenovosespaçosdereflexãocríticaedepartilhadesaberes,comooquese

regista nestas 361 páginas, possam originar a outras edições em língua

inglesae,assim,fascinarosmaisdiversosleitores,aquémealém‐fronteiras.

M.F.Silva,M.C.Fialho, J.L.O.Brandão, (Eds). (2016).LivrodoTempo:

Escritasereescritas.TeatroGreco‐Latinoesuarecepção.Vols.IeII.Coimbra

—SãoPaulo:ImprensadaUniversidadedeCoimbra—Annablume.379+

466pp.;Vol.I:ISSN978‐989‐26‐1277‐5;DOI:https://doi.org/10.14195/978‐989‐

26‐1278‐2;Vol.II:ISSN2182‐8814;DOI:https://doi.org/10.14195/978‐989‐26‐

1298‐0

MARIAFERNANDABRASETE2(UniversidadedeAveiro—Portugal)

Os volumes em epígrafe, publicados naColeçãoHumanitas Supple‐

mentum,apresentam53estudosdeautoresportugueseseestrangeiros,sobre

uma temática duplicada— o teatro greco‐latino e a sua receção— de

interessereconhecidoemuitoatual,nodomíniodosestudosclássicos,quer

nopanoramanacionalcomo internacional.Adecisãodedividirosnume‐

rosos estudos por dois volumes é explicada pelos coordenadores na

“Apresentação”,colocadanoiníciodoVol.I(p.15).Oscritériosbasearam‐se

nofactodeamultiplicidadedecontributosserepartirementreanálisesde

textosdoantigoteatrogreco‐latinoeestudossobreasuareceção,numarco

cronológicoqueseexpandeatéaosnossosdias.Alémdocontributoespe‐

cíficotrazidoporcadaumdoscolaboradores,ressaltanosdoisvolumesuma

convergência inabitualdediferentestiposdeabordagem—filológica, lite‐

2[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (8)

386

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

rária,dramática,comparatista,dereceção,etc.—depeçasefigurasdatragé‐

diaecomédiagreco‐latinas,emquenãoforamdescuradasquestõesdeíndole

teatral.Aamplitudedeestudosfocadosnoprocessodereescritaoureposição

depeçasantigasabrangediferentesépocas,sebemqueamaiorparteincida

sobre a nossa contemporaneidade. Também de assinalar o mérito de o

segundovolumecongregarocontributode investigadoresseniorese juni‐

ores,numamplolequedeestudosdereceçãodoteatrogreco‐latino,queen‐

volvesetepaíses:Portugal,Espanha,América,Itália,França,ReinoUnido.

Assim,umadasmaioresriquezasdaobrareside,precisamente,naenorme

pluralidadedeperspetivasdeanáliseadotadas,queremrelaçãoaostextos

clássicos,quernodiálogo incessantequese instituiu,ao longodosséculos

entreatragédiaeacomédiagreco‐romanaseasliteraturasdomundoociden‐

tal,comespecialpredominânciaparaaseuropeiaselatino‐americanas.

Sobo títulosugestivoLivrodoTempo:Escritas e reescritas,oprimeiro

volumeapresentaumconjuntode22estudos,justificadamentedistribuídos

porduasrubricas:“TeatroGregoe“TeatroLatino”.Incluiaindaummuito

útilIndexdeautorese textoscitados,seguidodeumaoportuna“Apresen‐

taçãodosautores”afinalizar.

Nestaprimeirapartedaobra,dedicadaà“escrita”,ouseja,aostextosdo

teatrogreco‐latino,devemdestacar‐seostemaseasmetodologiasdeanálise,

bemcomoadiversidadedeabordagensutilizadasnoestudodeumnúmero

significativodepeçasdos autoresgregos e latinos (predominantementede

Eurípides,mas tambémdeAristófanes,dePlautoedeSéneca).Muito rele‐

vantesparaumamelhorcompreensãodoantigoteatroclássico,serevelamos

diversos temase figurasescolhidosparaobjetodeanálisee reflexão.Entre

questõestemáticasmaisamplas(como“teatro,mitoepolítica”,“narrativado

passado”,“motivosdeumamordesgraçado”,“comédiavs.tragédia”,“otopos

doVoyeurismo”,“etnicidade”,“ousodaironia”ou“dissoluçãodotrágico”)e

aanálisedefiguras,principaisesecundárias,(nomeadamente,Egisto,ovelho,

oservoancião,FedraeHipólito,Héracles,Helena,Agave,Medeia),contam‐se

aindaestudosmaisespecíficos,comoéocasodeumque incidesobreuma

recentedescobertapapirológica(otextofragmentáriodeumapeçadesconhe‐

cidadeEurípides,intituladaIno),deumoutrosobreatragédiacristãChristos

Paschon,oudapertinentereflexãosobreadimensãosemânticadoatortrágico,

baseadanaPoéticaenaRetóricaaristotélicas.Alémdetodososcapítulos,nasua

amplitudetemática,ofereceremaoleitorumconspectoilustrativoerigorosa‐

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (9)

Recensõesenotíciasbibliográficas

387

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

mente fundamentadodavitalidadequeosestudos clássicosdesfrutamnos

nossosdias,apresentamainda,nofinal,umabibliografiabemselecionadae

pertinentesobreasrespetivastemáticas.

Na impossibilidadede se comentarem todososestudosnestabreve

recensão,parecejustificar‐sequesem*ncionemos22autoresqueretomaram

ouabriramnovoscaminhosaquestõesatinentesaoteatrogreco‐latino.Os

seusnomesseguemaordemapresentadano livro: JoséVte.BañulsOller,

AndreaNavarroNoguera,CeciliaAmes,FábiodeSouzaLessa,MariadoCéu

Fialho,DelfmF.Leão,AndrésPociña,GiorgioIeranò,FranciscaGómezSeijo,

Carmen Morenilla, María Cecilia Colombani, Juan Tobías Nápoli, P. J.

Finglass,PaulaBarataDias,CarolinaReznik,FrancescoDeMartino,Vivian

LorenaNavarroMartínez,JoanaBárbaraFonseca,RenatoRafaelli,JoséLuís

L.Brandão,RománBravoDíaz,C.AriasAbelláneAldoLopesDinucci.

Significativamente mais volumoso, o tomo II da presente obra

compreende31 capítulosdedicadosa estudosde receçãodo teatrogreco‐

romano,fazendojusàdesignação“reescrita”quefiguranotítulo.Osestudos

agrupam‐seemfunçãodasdiferentesnacionalidadesdosautoreseobrasque

foramobjetodeestudo,esegue‐seumaordenaçãocronológica.Assim,na

primeirasecção,dedicadaà“ReceçãoemPortugaleemEspanha”,osdois

capítulos iniciais ocupam‐se do Teatro de Gil Vicente e de uma Electra

praticamentedesconhecida, escritapeloÁrcadeportuguês FranciscoDias

Gomes.Osrestantesestudosqueintegramestaprimeiraparteincidemsobre

autoresepeçascontemporâneas(séculosXXeXXI).Noâmbitodasliteraturas

dramáticasportuguesa,galega,espanhola,argentina,venezuelana,italiana,

francesae inglesa,osensaiosdos investigadores,nacionaiseestrangeiros,

analisamumaamplavariedadedeaspetosdereceçãoclássica,emparticular

questõesdeintertextualidade,emobrasselecionadasdosseguintesautores:

Carlos Jorge Pessoa (Escrita da água: no rasto de Medeia); Hélia Correia

(Desmesura. Exercício comMedeia),GonçaloM. Tavares (Alceste); Salvador

EspriueJoséBergamín(Antígona);JuanTimoneda(traduçãodoAnfitrião,de

Plauto);R.OteroPedrayo(ALagarada);RicardoCarvalho‐Calero(Asombrade

Orfeu); LourdesOrtiz (Fedra);Andrés Pociña (Unha tardiña enMitilene e

Antígonafrentealosjueces);ConstanzaMaral(Alládondefuéramos);SergioDe

Cecco (ElReñidero); JuanOscarPonferra (El carnaval del diablo);Omardel

Carlo (Electra al amanecer); Alberto de Zavalía (El límite);MarianoMoro

(Matarásatumadre);MarceloMarán(Antígona1‐11‐14delBajoFlores);Ariel

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (10)

388

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

Dorfman (Purgatorio); León Ezequiel Febres‐Cordero (El últimominotauro,

cl*temnestraePenteo)Vicofa*ggi(UncertogiornodiuncertoannoinAulide);

PatriziaMonaco(CondominiomitológicoePenelopeide);MargueriteYourcenar

(LeMystèred’Alceste);Shakespeare(TwelfthNight).Desalientaraindaquetrês

dosensaiospublicadosnestevolumesedistinguemdosrestantesporuma

abordagemdecarizinterdisciplinar,comoéocasodareflexãosobrequestões

de encenação teatraldas comédiasdeTerênciona atualidade,ou sobre a

figuradeAriadnenaóperaArianeetBarbe‐Bleu,deMaeterlinck,semesquecer

o estimulante cotejodo topos trágicodo sacrifíciode Ifigénia com a série

televisivanorte‐americanaGameofThrones.

Adiversidadede obras, rigorosamente contextualizadas, aprofundi‐

dadedasanálises,queseapresentambemfundamentadasemautoresantigos

emodernos,bemcomoaabundânciadetopoiexaminadosnãopermitemque

se teçam algumas considerações,mesmo que breves, sobre cada um dos

estudosque compõemo livro em recensão.Não faltarãomotivosde entu‐

siasmoaoleitorparausufruirdestasreflexõesqueconstituem,semsombrade

dúvidas,umtestemunhosubstancialemuitoprofícuosobreaperenidadedo

teatro greco‐latino, aquém e além‐fronteiras.O elenco de autores deste II

volume é também notável e congrega várias nacionalidades: Andrés José

PociñaLópez,MariaFernandaBrasete,SusanaHoraMarques,MariaAntónio

Hörster&MariadeFátimaSilva,JorgeDeserto,CarlosMorais,María Jesús

Pérez Ibáñez,CarmeFernándezPérez‐Sanjulián,MariaPilarGarciaNegro,

Aurora López,M.ª Teresa Amado Rodríguez,Noelia Cendán Teijeir, Iria

Pedreira Sanjurjo,María InésGrimoldi,Rómulo Pianacci, LíaGalán,Ariel

Arturo Herrera Alfaro, Concepción López Rodríguez, Aníbal A. Biglieri,

StéphanieUrdician,MaríaInésSaravia,BegoñaOrtegaVillaro,CarlosDimeo,

DanieleCerrato,MercedesArriagaFlórez,RobertoTrovato,MilagroMartín

Clavijo,PascaleAuraix‐Jonchière,RémyPoignault,MónicaMafíaeFernanda

BorgesdaCosta.

Muitomaissepoderiadizersobreopreciosoconteúdodestesdoisencor‐

padosvolumes(825páginas,nototal)quenoschegamsobumafelizconceção

gráfica, que é, aliás, apanágiodesta valiosa série editadapor Imprensada

Universidade de Coimbra‐Annablume.As contribuições de vários autores

permitem que se reúnam, nestes dois livros, um conjunto de perspetivas

diversificadase inovadorassobrea“escrita”e“reescrita”do teatroclássico,

gregoelatino,quesecomplementameconstituemumexcelenteexemplodos

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (11)

Recensõesenotíciasbibliográficas

389

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

objetivosquesepodemalcançarapartirdeumacolaboraçãofrutíferaentre

investigadoresdediferentespaíseseinstituiçõesuniversitárias.

Porúltimo,háque felicitaros editoresdestaobra,MariadeFátima

Silva,MariadoCéuFialhoe JoséLuísBrandão,osautoresdosexcelentes

estudosqueacompõemeaImprensadaUniversidadedeCoimbra,muitas

vezesemassociaçãocomaeditorabrasileiraAnnablume,pelo importante

trabalhode edição edivulgaçãode livros tão importantes como estes,na

sempreatualáreadosestudosclássicos.

C.Pimentel eP.Mourão (Coords.). (2017). ALiteraturaClássica ou os

Clássicos da Literatura. Presenças Clássicas nas Literaturas de Língua

Portuguesa. Vol. III. Lisboa: Editora Campo da Comunicação, Coleção

Documentos.412pp.;ISSN:978‐989‐6465‐35‐1;978‐989‐6465‐40‐5.

MARIAFERNANDABRASETE3(UniversidadedeAveiro—Portugal)

Estenovovolumesurgeemcontinuidadededoisoutroslivrosdeatas,

editadosrespetivamenteem2012eem2014,econsistenumacoletâneade

ensaios,frutodo“IIIColóquioInternacionalAliteraturaclássicaouosclássicos

na Literatura”, que decorreu na Faculdade de Letras daUniversidade de

Lisboa,entreosdias2e4dedezembrode2015.Acoordenaçãocientífica

destacoleçãomantém‐seacargodasProfessorasDoutorasCristinaPimentel

ePaulaMorão,responsáveistambémpelaorganizaçãodaterceiraediçãodo

Colóquioqueteveporobjetivopromoverumareflexãocríticaemtornoda

receçãodaAntiguidadegreco‐latinanasLiteraturasPortuguesa,Brasileira,

GalegaedosPaísesAfricanosdelínguaoficialportuguesa.NobrevePrefá‐

cio,explicitamascoordenadorasqueadiversidadedeensaiosapresentados

confirma“opropósitoinicial[de]trilharasviasdofecundocruzamentodos

alicercesclássicosnaliteraturaportuguesadetodasasépocas”(p.8).Sendo

que 2017 foi o ano em que a academia portuguesa, e os classicistas em

especial,perderamumdos seusvultosdemaior renomenacionale inter‐

nacional, que dedicara a vida à celebração vivadosClássicos, a saudosa

DoutoraMariaHelenadaRochaPereira,decidiramasorganizadorashome‐

nagear,comestevolume,amemóriada“maiorclassicistaportuguesa”(p.8).

Nestaediçãodeelevadaqualidadecientífica,investigam‐seosmodos

comoseprocessamaalusãoliteráriaeaassimilaçãodematrizesdaAntigui‐

3[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (12)

390

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

dadeClássicanumnúmeromuitosignificativosdeescritoresportuguesese

brasileiros,emcujasobrasa intertextualidade,maisoumenosevidente,se

converte num relevante operador de leitura hermenêutica.O volume em

recensão compõe‐sede 29 estudos,que seguem a ordem cronológicados

autoresdeque seocupam, e termina comdois testemunhosvaliososdas

escritorasportuguesasTeolindaGersãoeLídiaJorge.

Aabrir,MariadoSocorroFernandesdeCarvalhoretomaautorescomo

Aristóteles,CíceroeQuintiliano,entreoutros,paradiscutir,deumpontode

vistaretórico,oconceitode“modelo”,numensaiointitulado“Introduçãoao

EstudodoConceitoRetóricodeModelo”(pp.9‐24).Em“Leiturasrenascen‐

tistasdeLuciano:oprólogodaComédiaAulegrafiadeJorgeFerreiradeVas‐

concelos” (pp.25‐35),MariaLuísadeOliveiraResendecentra‐se,especial‐

mente, na influência do escritor de Samósata na comédia renascentista

Aulegrafia, cujo prologizon éMomo, o deus do sarcasmo. Ricardo Nobre

(“Eperdoe‐meailustreGréciaeRoma”:sobreahistóriaantigan’OsLusíadas,

deLuísdeCamões”,pp.37‐49)estabeleceumacomparaçãoentreheróispor‐

tugueses e personalidades da Antiguidade Clássica n’Os Lusíadas, para

realçar o importante significado que este tipo de referências detém na

construçãodaepopeia.Em“ACenatípicadaCruz”(pp.51‐63),LuísMiguel

FerreiraHenriquesexamina,apartirdacenatípicadoestandarte,orecorte

“político, didático e moralizante” (p. 62) que o discurso historiográfico

adquiriu,sobinfluênciadosantigosromanos,naépocadoRenascimento.No

ensaio seguinte (“Umpoema aquatromãos:Faria e Sousa comentador e

poeta”,pp.65‐79),MariadoCéuFragadebruça‐sesobrepoesiabucólicade

Faria e Sousa, concluindoquena écloga Sintra “épossível reconhecerno

pastorAlmenoumafiguraalegóricadeCamões”(p.75).

AinfluênciaclássicaemdoisescritoresportuguesesdoséculoXVIIé

abordada nos dois ensaios que se seguem: aanálise deMarcelo Lachat

(“Aconsolação da poesia em sonetosmorais deD. FranciscoManuel de

Melo”,pp. 81‐91) incide sobre as repercussõesdosprincípiosda filosofia

estoico‐cristãemdoispoemasdomultifacetadoescritorseiscentista;oestudo

assinadoporArnaldoEspíritoSantoeCristinaCostaGomes(“Presençados

ClássicosnasCartasdeTomásdeFigueiredo,S.J.(1646‐1708)”,pp.93‐106)

apresentaumareflexãobemdocumentadasobre“ocruzamentodacultura

clássica[…]comavivênciaespiritualereligiosadoséculoXVII”(p.105).

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (13)

Recensõesenotíciasbibliográficas

391

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

TeodorodeAlmeidaeCândidoLusitanosãoosdoispoetasestudados

nos estimulantes ensaios de Zulmira Santos (“Asmargens do texto e a

herançaclássica:asegundaediçãodeOFelizIndependente”,pp.107‐121)ede

CíntiaMartinsSanches (“Aproduçãoea traduçãode tragédiasemdecas‐

sílaboportuguêseoestilotradutóriodeCândidoLusitanoparaoÉdipode

Sêneca”,pp.123‐134).

Tomam‐se,deseguida,comoâmbitodeestudo,obraseescritorespor‐

tuguesesdoséculoXIX.NoensaiodeAnaRitaFigueira(“OsAntecedentes

daGuerradeTróiaemBellaHelenadeMendesLeal”,pp.135‐145),foca‐sea

tradução livre da última versão do libretto da opereta romântica La Belle

Hélène,deOffenbach(1964),realizadapeloescritorportuguês,devidamente

contextualizada, numa análise intertextual e interdisciplinar que procura

redefinira figuradeHelena,combasenosparalelismosevariaçõesqueo

cotejodostextospossibilita.AmarcadainfluênciadacélebreOraçãodaCoroa

doatenienseDemóstenes,nasduasversõesportuguesas,constituiotemade

estudodeAbeldoNascimentoPenaem“Eloquênciae liberdade:Demós‐

tenes e a Oração da Coroa nas versões de Latino Coelho e de Vieira de

Almeida”,(pp.147‐167).Osecosclássicosnodiscursomemorialísticodetrês

obrasdeEçadeQueirós (CorrespondênciadeFradiqueMendes,ACidadeeas

Serras e o Conde de Abranhos) são avaliados de forma breve,masmuito

perspicaz, em “A presença da Antiguidade Clássica nos relatos memo‐

rialísticodaficçãoqueirosiana”(pp.169‐192),daautoriadeAnaPaulaPinto.

O “classicismo” que se descortina na poesia de Eugénio de Castro é

examinado na relação fecunda que estabelece com o “modernismo” por

MiguelFilipeMochila,em“PresençaevontadedoclassicismoemEugénio

deCastro”(pp.193‐206).

Apartededicadaà literaturaportuguesadoséculoXX inicia‐secom

doisensaiosdedicadosaFernandoPessoa.Oprimeiro,dePatríciaSoares

Martins,intitulado“AArenaPagãdoBarãodeTeive:ParaumaLeituradeA

EducaçãodoEstóicodeFernandoPessoa”(pp.207‐220)pretendeanalisarde

quemodoaobradomaisdesconhecidosemi‐heterónimodePessoaencena

“umateoriadotrágiconosentidoquelheconferiuHölderlin,istoé,deum

trágicosemtragédia,emprimeirolugar,efinalmente,deumadesconstrução

dotrágico”(p.219).Noseuestudo“Quandoregressamosdeuses?Parauma

teologiadasodesdeRicardoReis”(pp.221‐235),PedroBragaFalcãodivide

a sua pertinente discussão do elemento religioso na obra do heterónimo

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (14)

392

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

pessoano em seis categorias para concluir que “vemos, então, no

neopaganismonãoexatamenteum“politeísmo”,masmaisprecisamenteum

“monismo”(p.234).

Osdois ensaios seguintes recuperamdoisnomesdegrande impor‐

tância no panorama literário do século XX, mas por vezes esquecidos:

Teixeira de Pascoaes e Aquilino Ribeiro. António Cândido Franco, num

sugestivo título “O Espírito Bárbaro Cristão e o Demónio Ciceroniano:

Aspectos de São Jerónimo de Teixeira de Pascoaes” (pp. 237‐243), traz à

discussãootoposdoanticlassicismonaobradoescritor,paraconcluirque“se

équeefectivamente existiuantes, entra em colapsodefinitivono livrode

1936” (p.239).Daanálisedas referências,apesardebreves,às figurasde

DáfnisedeCloe,noprimeiroromancedeAquilinoRibeiro,AVidaSinuosa

(1918),ocupa‐seCristinaAbranchesGuerreironoestudo,intitulado“Ecosde

DáfniseCloeemAVidaSinuosadeAquilinoRibeiro”(pp.245‐252).

Safoeas“Auroras”homéricassãoasduasreferênciasclássicasquedão

omote aos estudos seguintes. Em “Safo naGrécia, Faustino no Brasil: a

solidãodanoitealta”(pp.253‐266),MarinaPelluciDuarteMortozaintenta

descortinar ressonâncias temáticas da poesia sáfica na obra do poeta

brasileiroMárioFaustino.JánoartigodeTerezaVirgíniaBarbosa(“Auroras

emanhãs homéricas no Sertão deRosa (I)”, pp. 267‐276) se dá conta do

importante significado que detêm as revisitações homéricas do escritor

mineiro,especialmentenosepítetosefórmulasrelativasà“Aurora”,naIlíada.

OfascínioexercidopelafiguradamãedoimperadorNero,Agripina,

levaMariaJoséFerreiraLopesaretomarasfonteshistóricastradicionaispara

concentrarasuaanálise(“Cuiusestueritas?Doisrelatosmemorialistaspós‐

‐modernosdaImperatrizAgripina”,pp.277‐297)emduasobrascontempo‐

râneas:MemóriasdeAgripina(1993),deSeomaradaVeigaFerreira,eMémoires

d’Agrippine(1994),dePierreGrimal.

Seguem‐se três estudos dedicados à obra de Vergílio Ferreira.No

primeiro, assinado por Isabel Pires de Lima, e que se intitula “Vergílio

Ferreira:DeclinaçõesdapresençadosClássicos”(pp.299‐312),rastreiam‐se

algumas das influências/referências clássicas que atravessam a escrita

vergiliana. Numa senda análoga, e com o objetivo de sublinhar o

“desconforto” (p.313)queoescritordenotaem referirassuas influências

literárias,nomeadamenteclássicas,RosaMariaGoulart(“VergílioFerreira:a

culturados“poetasmortos”,pp.313‐321)procedeaumareflexãocríticaem

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (15)

Recensõesenotíciasbibliográficas

393

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

tornodainterrogaçãoqueconcluioseutexto:“VergílioFerreira:umclássico

olhandocominquietaçãoofuturoouum(pós)modernocomsaudadesdo

passado?(p.321).Noestudodeteorcomparatista,apresentadoporAnaSeiça

deCarvalho (“Sobreoenvelhecimento:visõesdemarcoTúlioCíceroede

Vergílio Ferreira num esboço comparatista”,pp. 323‐332),destacam‐se as

visõesdiferenciadasqueosdoisautoresapresentamdavelhice.

Partindodapremissadequenósnãoconhecemos,de facto,acultura

clássicaporqueelanoschegoupor“sucessivasmediaçõese interpretações”

(p.333), JoséPedroSerraapresenta‐nosumareflexãohermenêutico‐literária

sobreumromance“clássico”deMáriodeCarvalho(“Enquantoummundo

cai,Umdeuspasseandopelabrisadatarde”,pp.333‐344),estruturadaemtrêseixos

temáticos:“Olugar”,“Aépoca”e“Anarrativa:acçãoeconstruçãodosentido”.

Noestudo“CatástrofeeRuína–EntreSynésiusdeCireneeJoãoMiguel

FernandesJorge” (pp.345‐354),FranciscoSaraivaFinoexaminaa influência

exercidapelaobradofilósofogregoneoplatónicodoséculoIVa.C.naescrita

poéticadeFernandesJorge,comungandoambososautoresdeumaleiturado

tempocomoruína,numnívelsimultaneamenteontológicoematerial.

ApoesiadeNunoJúdiceocupaumespaçodereflexãonoensaiode

JoséCândidodeOliveiraMartins,em“MetamorfosesdeNarcisonapoética

deNunoJúdice”(pp.355‐366),estruturadoemtornodetrêseixostemáticos:

1. “Múltiplos reflexos deNarciso”, 2. “Figurações deNarciso emNuno

Júdiceʺ;3.“Imagensdemelancolia”.

Cruzando a poesia de Nuno Júdice com uma breve incursão na

literaturamoçambicana,RosaCosta,noseuartigo“ORegressoaosclássicos

em“Cantomarítimo”e“A infinita fiadeira” (pp.367‐375),apresentauma

reflexãosobrearetomadosclássicos,combasenumcontodeMiaCoutoe

numpoemadopoetaportuguês.

UmaViagemàÍndia,deGonçaloM.Tavares,constituiaobraemanálise

noestudodeAnaIsabelCorreiaMartins,intitulado“UmaViagemàÍndia:

itinerânciasmelancólicasdeum(anti)‐heróiclássico(pp.377‐387).Aanálise

desta “odisseia” metafísica do pensamento desdobra‐se em três itens

temáticos:“1.AmelancoliadeBloom:osheróistambémchoram?”;“2.Osloci

comunes clássicos e a hibridização do género”; “3.O(s) (des)Amor(es) de

Bloom:índiasnãocartografadasemmapas”.

Afinalizarasecçãodeestudos,“ARochaBranca,deFernandoCampos:

umaimagemheterodoxadeSafo?”,CristinaCostaVieira,depoisdeindagar

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (16)

394

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

osprincipaismotivosda imortalidadedapoesiadeSafo, concentraa sua

análise emdois “imagotipos”, ada“glória literária” eado“suicídiopor

motivospassionais”noromancedeFernandoCampos,cujoargumentonos

transportaparaailhadeLesbosnoMarEgeu.

Porúltimo,afecharovolume,aparecemosTestemunhosdeduasescri‐

torasportuguesascontemporâneas,comumpercurso literáriodereconhe‐

cidomérito.TeolindaGersão evoca algumasdas suas obras, com grande

destaqueparaoromanceACidadedeUlisses,porformaaesclareceralgumas

das inevitáveis influências que asmatrizes clássicas exerceram, de forma

conscienteouinconsciente,noseufecundoprocessodeescritaliterária.Por

suavez,LídiaJorgeconfessaarelação,demaiordependênciaoudistancia‐

mento,etambémafetiva,quemantevecomessestextosmodelaresdaAnti‐

guidade, considerados “inaugurais […] e indispensáveis para o entendi‐

mentodaHumanidade”.Lamentandoqueseregiste,nostemposdehoje,um

certodesinteressepelaaprendizagemeconhecimentodaliteraturaecultura

clássicas,relembracomo,afinal,osmitosantigos,osvaloresdonossomundo,

ideaiscomoodaliberdadeedajustiçapovoamoimagináriocontemporâneo

ehabitamonossoespíritoenquantoserhumanos.

O volume, agora publicado sob a chancela da Editora Campo da

Comunicação,revela‐seuminstrumentodetrabalhomuitoútileoportuno,

noâmbitodosestudosdereceçãodaAntiguidadeClássicaemliteraturasde

línguaportuguesa.Pensadonãosóparaumleitorespecialista,temomérito

desetornaracessíveltambémaumpúblicomaisalargado.Noseuconjunto,

osensaioscoligidossãoinovadores,eéestimulanteaperspetivaçãoquenos

fornecem dos autores e temáticas abordados. Alguns dos estudos apre‐

sentam‐secomoumbompontodepartidapara investigaçõesmaisdesen‐

volvidas.

As referências bibliográficas, sempre organizadas por um critério

seletivo,aparecemlocalizadasnofinaldecadacapítulo.

Nota‐se, no entanto, a falta de um índice remissivo no final, que

permitaaoleitorumacessorápidoaautores,antigosemodernos,bemcomo

àsobrascitadas.

Para concluir, importa frisar que se trata de uma obra de grande

interesse para quem procure compreender a importância das matrizes

clássicasem literaturasde línguaportuguesa,econhecerasbasescorretas

paraainvestigaçãoeproblematizaçãodotema.

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (17)

Recensõesenotíciasbibliográficas

395

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

CarlosA.M.deJesus(2017).POESIAEICONOGRAFIA.Mito,desportoe

imagemnosepiníciosdeBaquílides.Porto:FundaçãoEugéniodeAlmeida.

ISBN:978‐972‐8012‐44‐1,540págs.

MARIAFERNANDABRASETE4(UniversidadedeAveiro—Portugal)

A obra em análise representa o ponto culminante de uma aturada

investigaçãorealizadapeloA.,noâmbitodadissertaçãodeDoutoramento

emEstudosClássicos,naespecialidadedeLiteraturaGrega,apresentada,em

2012,àFaculdadedeLetrasdaUniversidadedeCoimbra,sobotítulo“Poesia

e iconografia: omito nos Epinícios de Baquílides”, um estudo único em

línguaportuguesa,noâmbitodainvestigaçãorealizadaemtornodestepoeta

incluídonocânonealexandrino.Poderádizer‐sequeapublicaçãoquedeu

agora à estampa, sob o patrocínio da prestigiada Fundação Eugénia de

Almeida,setratadeumestudoaprofundado,inquestionavelmenteoriginal,

sobreestepoetalíricooriginárioCeos(talcomooseusobrinhoSimónides),

quecolocaemdiálogopoesiaeiconografiadeummodosingularíssimo,eem

línguaportuguesa.

ComoafirmaoA.naparteintrodutóriadovolume,quefigurasobo

título“Adentrar‐seemBaquílides”(pp.13‐18),apresenteopçãodecentrara

sua investigação, exclusivamente, nos textos dos epinícios que encerram

narrativasmais oumenos desenvolvidas de episódiosmíticos com valor

retóricoe funçãoparadigmática indiscutíveis, justifica‐sepela intençãode

realçaraideiadeque,entrepoesiaeiconografia,existe“umdiálogomaisde

colaboraçãodoquede imitação”(p.14)eambososregistosseconstituem

como“poéticasdomito,formasválidasdeocriarerecriar,comascarate‐

rísticas,valênciaselimitaçõesinerentesacadaum”(p.14).

Despoisdas“ObservaçõesPreliminares”(pp.19‐20),emqueseexpli‐

citam os critérios utilizados na citação dos fragmentos, dos autores, das

obras,dasediçõesedosvasosgregos,aobradesdobra‐seporduasextensas

secções: Primeira Parte:Dados Preliminares (pp. 23‐185); Segunda Parte:

Mito,DesportoeArtesPlásticasnosEpiníciosdeBaquílides(189‐442).

Porrazõesqueseprendemcomoslimitesdeumtextoderecensãoe

comariquezadeconteúdodaobraemapreço,limitar‐me‐eiafazerbreves

anotações dos diversos capítulos que compõem as duas partes referidas.

Importará,desdejá,dizerqueoenormerigoreexigênciacientíficaquecara‐

4[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (18)

396

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

terizam este estudo torná‐lo‐ãouma referência absolutamente obrigatória

paraa investigaçãodopoetaeda temáticaemquestão.O leitor/estudioso

encontrará aqui uma quantidade muito considerável de informação, de

referênciaspreciosasamuitasdasquestõesque têmalimentadoa fortuna

crítica da poesia de Baquílides, de interpretações competentes e bem

documentadasdeumnúmeromuitosignificativodeepinícios,bemcomoda

suanotávelrelaçãocomaiconografia.

VejamoscomooA.organizaaIParte.Apósumcapítulointrodutório

ede contextualização, intitulado “Aproximações à narrativamítica: entre

poesiaeartesplásticas”(pp.23‐89),ofocodeanáliserecaisobreapeculiar

inter‐relaçãoentre“Mitoedesporto:celebraçãopoéticaeplásticadavitória”

(pp. 91‐133). No terceiro capítulo (pp. 133‐185), dedicado ao “percurso

biográficoeartísticodeBaquílides,ainquiriçãodesdobra‐seentreumaparte

A, intitulada “Cronologias e espaços de mobilidade” e uma parte B,

“Conhecimentoerecuperaçãodeumpoeta”.

OnúcleomaissubstancialdopresenteestudoabarcatodaaParteII:

“Mito,DesportoEArtesPlásticasnosEpiníciosdeBaquílides”(pp.184‐442).

Constituídaporduassecçõesrepartidasp*rnumerosositensdeanálisecom‐

plementares, cuja enumeração seria importante,mas fastidiosa, oA.pro‐

moveumaarticulaçãoprofundamenterigorosaemuitobemfundamentada

entre as narrativas mitológicas de alguns epinícios, na essência

profundamente ecfrásticas, as praxeis atléticas e as suas representações

iconográficas,tantopictográficasquantoescultóricas.

De salientar que cada capítulo, complementado por diversos sub‐

capítulos,revelaumtratamentoespecializadoeemprofundidadedastema‐

ticasabordadas,que compreendem interpretações exegéticas, comentários

filológicos,discussãodesoluçõesecdóticasparaproblemasmaiscríticose,é

claro,umaapresentaçãosequencialdetextosgregosedeversõesemportu‐

guêsdosepiníciosbaquilidianosestudados.Origoreaexigênciapostosna

elaboraçãodesteexcelenteestudoevidenciam‐se igualmentenaqualidade

das traduções, caldeadas sempre por uma apurada sensibilidade poética.

Recorde‐seque,em2014,C.AM.deJesushaviajápublicado,sobachancela

daImprensadaUniversidadedeCoimbraeAnnablume,aobraBaquílides.

Odes e fragmentos. Tradução do grego, introdução e comentário, ou seja uma

versãoemlínguaportuguesadocorpusconhecidodopoetalíricodeCeos.

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (19)

Recensõesenotíciasbibliográficas

397

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

Por último, na “Parte III. O Mito nos Epinícios de Baquílides.

Conclusões”,oA.,sebemqueconfesse“adificuldadedeestabelecercon‐

clusões definitivas (p. 454), apresenta uma reflexão sistematizada e

convenientementeestruturadadosprincipaisaspetos linguístico‐poéticose

histórico‐culturais, fundamentados em notas criteriosas e precisas, com o

objetivodecaracterizarestegénerodelíricacoralnocontextodapoiesisde

Baquílides,originalmentealicerçadanumacomplexatradiçãomítico‐poética

eplástica.Como concluioA. “osmitos escolhidosporBaquílides fariam

partedeum reportório tradicional,umamacro‐tradiçãodaqualambasas

atualizações, poesia e iconografia, são afinal duasmanifestações que há

tomarnummesmopatamardecriatividadeeautoridade”(p.455).

A fechar esta obra monumental, apresenta‐se uma Bibliografia

criteriosamenteselecionadaeatualizadaeumbemorganizadoeproveitoso

“ÍndicedeNomeseAutores”,queseestendepor48páginas.Porfim,igual‐

mente valiosos são o “Índice de Termos Gregos” e um outro sobre as

fascinantesilustraçõesapresentadasnaobra.

Muitomaissepoderiadizersobreestepreciosovolumede540páginas,

muitobemorganizadonumaediçãoesmeradaequasesemgralhas.Aelevada

qualidadedaobraemrecensãocomprovaorigordainvestigaçãolevadaacabo

porCarlosMartinsdeJesus,umadasvozesmaisautorizadasnestedomínio

dosestudosdalíricaarcaicae,especialmente,dalíticacoraldeBaquílides.

J.V.Bañuls&F.DeMartino(eds.)(2017).Elcorodramático,unpersonaje

singular.Bari:LevanteEditori.445pp.ISBN:978‐88‐7949‐681‐0;ISSN1723‐

4891

EMÍLIAM.ROCHADEOLIVEIRA5(CentrodeLínguas,LiteraturaseCulturas,Universidadede

Aveiro—Portugal)

Editado por JoséVicente Bañuls e FrancescoDeMartino, o volume

resultadovigésimocongressoorganizadopeloGrupSagunt.GrupdeRecerca

iAccióTeatraldelaUniversitatdeValència(GRATUV),desde1997,sobreo

teatroclássiconoquadrodaculturagregaeasuapervivêncianaculturaoci‐

dental.Osparticipantesnesteúltimoencontroreflectiramsobreaimportância

docoro,̋ esepersonajecolectivoyalavezsingularenmuchosaspectosʺ(p.13).

Osdezasseteestudosestãodispostosemduaspartes:ʹI.ElTeatroClásicoʹeʹII.

LaRecepcióndelTeatroClásicoʹ.Osnovetrabalhosreunidosnaprimeiraparte

5[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (20)

398

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

estudam opapel e a importânciado corona tragédia e comédia clássicas,

enquantoosrestantesoitosededicamàanálisedarecepçãodapersonagemna

artecontemporânea(literatura,músicaecinema).

O conjunto de estudos é precedido por um texto de apresentação,

ʹPalabrasde losEditoresʹ (pp.9‐14),emque sedescrevea intervençãodo

GRATUVnoapoioedivulgaçãodoestudodoteatroclássicogreco‐latinoe

suapervivêncianatradiçãoocidental:ʺDelencuentrohabido,delosdebates

quesiguierona lasexposiciones,de las reelaboracionesde losautores,de

todo ello el fruto es elvolumenpresente, conscientesdeque elobjetode

estudiovaalosorígenesmismosdeldramaoccidentalcontodoloqueello

suponeporsuimportanciaeneldesarrollodelaculturaoccidentaldesdesus

orígeneshastanuestrosdíasyensuproyecciónhaciaelfuturo.ʺ(p.14).

Aparte ʹI.ElTeatroClásicoʹabrecomoestudodeF.JavierCampos

DarocaeJuanLuisLópezCruces,ʺSócratescoralʺ(pp.17‐53).Estetrabalho

apresentadiferentesabordagensdafiguradeSócratesemrelaçãoaalguns

elementosdaculturamusicaldoseutempo.Apósumaintroduçãoemque

sãoapresentadosvários“paradigmasfilosóficos”docoronaAntiguidade,os

AA., partindo da leitura de dois passos platónicos, Phd. 60‐61 e Grg.

481c‐482d,analisam,noqueaoseusignificadofilosóficodizrespeito,dife‐

rentes atitudesde Sócrates em relação àmúsica e àpoesia. Nas secções

seguintes, são estudados dois aspectos da presença de Sócrates na cena

cómica:asuainteracçãocomocorodasNuvensquandoestasrespondemà

suachamada(Nu.363‐74)eapossibilidadedeopróprioSócratesaparecer

comomembrodeumcorocómicoemtrêscomédiasdosanos20doséculoV,

a saber, Connos, de Amípsias, OsAduladores, de Êupolis e Convivas, de

Aristófanes.

Nosegundoestudo,“Gliocchidelcoro.Appuntisuteatroecomunica‐

zione visiva” (pp.55‐118), começando por lembrar que no theatron, lugar

específicoparaver,têmdecoexistiroqueéʺvistoʺ(noqualresidemanovi‐

dadeeaespecificidadedoteatro),oque̋ nãoévistoʺ(eapenassetornavisível

medianteaintervençãodemechanai)eoque̋ nãodeveservistoʺ,FrancescoDe

Martinoaponta,entreostruquesmaiseficazesparaocultaroqueéproibido

ver,osruídos,quesubstituíamascenasviolentas,easekphraseistantasvezes

levadasacabopeloCoro,paraconcluirqueesteseufemismosʺvisuaisʺsão,na

verdade,umaformajáantigadecensura.Aamplabibliografiaqueacompanha

esteestudorevelaocuidadodoA.nasuaelaboração.

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (21)

Recensõesenotíciasbibliográficas

399

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

Com o estudo “O estásimo i do Coloneus: un caso de écfrase?”

(pp.119‐130),MariadoCéuFialho,partindodahermenêuticadotextodeÉdipo

emColono,emparticular,doestásimoI,procurademonstrarqueaintençãode

Sófocles,omaisreligiosodostragediógrafos,emdiálogocomasnarrativase

representaçõesdeAtenaePoséidon,eraevidenciarque,numacidadeideal,

cujaforçaradicanaconsonânciacomumaharmoniaqueaultrapassa,nãohá

espaçoparapelejasentreosdeuses,masapenasparaaacçãoconcertadadas

divindadesprotectoras (p.129).SegundoaA., comoglorioso epromissor

elogiodeColono/Atenas,Sófoclestransmiteaesperançaeaconvicçãodeque

Atenaspossuiaforçanecessáriaparasereerguer”,“sejaelacapazdecultivar

essaofertadeharmoniaqueosdeuseslheoferecem”(pp.129‐130).

MariateresaGalaz,“ElcoroenlascomediasdeAristófanes:personaje

literario y documento histórico” (pp. 131‐151), partindo de um passo da

PoéticadeAristóteles(1449a37‐49)queatestaaexistênciadeumcorocómico,

procura inferir alguns aspectos do papel que aquele desempenhava no

espectáculo cómico, tomando em consideração as analogias e diferenças

entre a tragédia e a comédia antiga. A A. conclui que as considerações

aristotélicas sobreocoro trágicopodem seraplicadasaocorocómico:em

primeiro lugar, quando o coro entra (párodo), põe em marcha a acção

dramática;emsegundo,podefuncionarcomoummarcadorparaasucessão

dascenas;emterceiro,representa,também,avozdacomunidade.Otextoé

acompanhadodeumacriteriosalistadereferênciasbibliográficas.

Noestudo“ElcorodePersasyTroyanas:lavisióndelosvencedores”

(pp.153‐163),começandoporrecordarqueÉsquiloassistiuaonascimentoda

democraciaeEurípides,enquantopoetatrágico,foiresultadodestesistema

político,DavidGarcíaPérezprocurademonstrarqueotemadaguerraecom‐

sequenteperdadaliberdadeeraumassuntorecorrentementeabordadopor

ambos ospoetas, atravésde temashistóricos emitológicos, em tragédias

comoOsPersaseasTroianas,comvistaaumareflexãosobreoseupróprio

tempo,mastambémsobreofuturo.

O texto deCarmenMorenilla eClaraGómezCortell (pp. 165‐182)

procurareflectirsobreos“Mecanismositerativosenloscorosdramáticos”.

Segundo as AA., como elemento constitutivo da linguagem poética, a

iteração está na base de diversos processos poéticos expressivos e

impressivosedeestruturascomplexasquereforçamosignificadodostextos

e os dotam de um valor singular.Asmesmas lembram que, no caso da

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (22)

400

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

tragédiagrega,oseuusoéparticularmenteevidentenoscânticosdocoro,

masmostram,também,atravésdaanálisededuaspassagensdastragédias

ReiÉdipoeSetecontraTebas,quea interrupçãodeumaestruturaesperada

constitui, domesmomodo, um processomuito eficaz emmomentos de

grandeintensidadeemocional.

SegundoPuraNieto,,“CorosfemeninosenPíndaro”(pp.183‐207),as

numerosasreferênciasaocoroincluídasnasodesdePíndaroaludemsempre

aumgrupoconstituídoporhomens.Noentanto,existemtambémdiversos

coros femininosrelevantesnapoesiapindáricaque,naopiniãodaA., têm

recebidoporpartedosestudiososmenoratenção.Estetrabalhoestuda,pois,

o papel e a função destes grupos corais femininos, em especial os coros

divinosdeMusas,CáriteseHoras.

Em“ElcorodelasTroyanasdeEurípidesysurecepciónenlaescena

españolacontemporánea:LasTroyanasdeIrenePapas&LaFuradelsBaús”

(pp. 209‐222), Lucía P.RomeroMariscal começa por destacar a natureza

singulareaimportânciadapersonagemdocoronasTroianasdeEurípides

enquanto grupo de prisioneiras de guerra. Segundo aA., as encenações

contemporâneasdapeçageralmentecolocamaênfasenestegrupodevítimas

femininas da agressão masculina em tempos de guerra. O seu estudo

centra‐senaversãocénicadasTroianasdeEurípidesdirigidaporIrenePapas

e JürgenMüllereacargodacompanhiade teatroLaFuradelsBaus,que

estreou em Setembro de 2001, em Valência. Entre outros aspectos, a A.

destaca o amplo número de coreutas postos em cena e a extraordinária

vivacidadequeessenúmeroconfereàsuaacção.Oestudoincluiaindauma

série de interessantes e elucidativas fotografias que retratam alguns dos

momentosmaismarcantesdoespectáculo.

O texto que encerra a parte I deste volume, “Mujeres, fugitivas,

suplicantes.ElcorodelasSuplicantesdeEsquilo”(pp.223‐240),deMariade

FátimaSilva,pretendesublinharaimportânciadaspalavrasusadaspelotra‐

gediógrafo,reconhecidoartistadacomposiçãocoral,paraalertareinformar

o espectador sobre a técnica por si usada na construção da identidade,

movimentosediscursodocoro,esseantigoepreciosoinstrumentotrágico.

Ao contrário da comédia, a tragédia não conta com uma parábase para

estabelecero contacto entreoautor eo seupúblico,masopoeta trágico,

atravésdocoro,vaiencontrando formasdemotivaroauditórioparauma

leituraatentaeespecializadadasconvençõeseparaoesforçode inovação

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (23)

Recensõesenotíciasbibliográficas

401

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

quevaifazendoacadamomento(pp.223‐224).AA. tomacomopontode

partida para a sua análise o caso do atormentado coro feminino das

Suplicantes,segundoamesma, testemunho importantesobreacomposição

convencionaldestetipodecoro.

AparteIIdolivro,dedicadaàrecepçãodoteatroclássico,abrecomo

estudo de Corrado Cuccoro, “ll Coro nella drammaturgia prometeica di

ispirazionesociale,daGoetheainostrigiorni”(pp.243‐271).Desdeofinal

do séculoXVIIIquea lutamíticaentrePrometeu eZeus eos respectivos

aliados tem sido recorrentemente usada como paradigma na

conceptualizaçãodeconflitossociaisenacríticadopoder instituído.OA.

reflecte, pois, sobre as formas e a importância do coro na dramaturgia

prometeica de inspiração social desenvolvida a partir do final do século

XVIII,partindodaanálisedasversõesdeJ.W.Goethe,J.L.Brereton,J.E.

Reade,S.Becquerelle,W.B.Nichols,D.G.Bridson,L.Lee,A.Sobral,G.Ryga,

T.Paulin,M.MedinaVicario,T.HarrisoneJ.DeSena.

Ainda que no teatromoderno o coro tenha perdido a importância

alcançadanastragédiasecomédiasclássicas,presentementeencontramosna

linguagempublicitáriaumadasfunçõesdocoroantigo:sugeriretransmitir

umpontodevista.SegundoDelioDeMartino,“Elcoropublicitário” (pp.

273‐290),comopropósitodesesugeriraoclienteaaquisiçãodeprodutosou

serviços,sãousadosemanúnciosmodernos,mitológicosenãomitológicos,

muitoscoros.OA.estuda,porconseguinte,ousodecorosnoscaroselliespots

italianoscriados,apartirde1957,parapublicitareparodiarcorosfamosos

da tradiçãomelodramática e com o intuito último de convencer, com as

mesmastécnicasdoteatroantigo,umnovotipodeespectador.Estetrabalho

incluiumapêndicecompostopordezasseisimagensilustrativasdecaroselli

espotspublicitários.

Como recorda Charles Delattre, “Le ʺcomplexe de Cassandreʺ:

interactionsduchoeurdanslʹAgamemnondʹEschyleetau‐delà”(pp.291‐324),

aanálisedramatúrgicaclássicada tragédiagregaantigacostumasepararas

personagens individuais, identificadas pelos seus nomes, do anónimo e

colectivo coro, enfatizando as diferenças que os separam.As personagens

individuaiseocoroocupamdiferentesáreasdoespaçocénico,osactoresque

os interpretam pertencem a diferentes camadas sociais e existe um forte

contrasteentrediscursoecanticaquereforçaadiferenciaçãoacimareferida.

Todavia, segundo o A., a análise mitopoética poderá contrariar essa

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (24)

402

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

perspectiva;oexemplodeCassandranoAgamémnondeÉsquilopermite‐nos,

naopiniãodomesmo, considerarapossibilidadedeagrupar sobamesma

definiçãocoroepersonagem.Nesteestudo,oA.propõe‐sedefinirumesquema

actancialqueresolvaatensãoentreindividualidadeecolectividade,entreuma

personagemactivaeumcoroqueseriaummeroespectador,porformaacriar

umamatrizcaracterísticadacenatrágica,queseráútilnadetecçãodapresença

docoroemproduçõescontemporâneasemquenãoeraesperadoencontrá‐lo.

OestudodeEnriqueGavilán,“Cuandolaexperienciasedesvanece:el

coroenelteatropostdramático”(pp.325‐357),analisaapresençadocorono

teatropós‐dramático, apóso seu eclipse secular.OA.defendeque a sua

relevância deriva das mesmas razões que explicam o aparecimento da

estéticapós‐dramática:avontadede intensificaraexperiência teatralnum

mundoemqueaexperiênciasedesvanece.Apósconsideraçõesdeâmbito

genérico,E.Gavilánpropõe‐seexplorarumexemplorecente,“Elcuellodela

jirafa”, do Matarile Teatro, espectáculo que enquadra a sua peculiar

coralidadenumespaçocénicosingularesimultaneamenterevelador(p.326).

Oestudointegrafotografiasqueilustrammomentosdoreferidoespectáculo.

Em“Alcestis.Delcorotrágicoallírico:AlcestisdeEurípides,Alcesteou

letriomphedʹAlcidedeQuinault‐Lully(1701)yAlcestedeGluck(1767)”(pp.

359‐387),JuliLealanalisa,primeiramente,arelaçãoqueocorodatragédia

euripidianamantémcomaspersonagensprincipaisdapeça,para,depois,

perceberdeque formaessarelaçãosealteraemduasrecriaçõesdoséculo

XVIIImuitobem recebidaspelopúblico:Alceste ou le triomphedʹAlcidede

Quinault‐Lully e Alceste de Gluck. A completar o estudo, no final,

encontramosumaDiscografiaeumaVideografia.

CarlosMoraiseShaoLing,“ElCoroenLasangredeAntígona: texto,

músicaypuestaenscena”(pp.389‐408),estudamaimportânciaeopapeldo

CoronumarecriaçãodaAntígonadeSófocles,LasangredeAntígona:Misterio

entresactos,deJoséBergamín(1895‐1983).Reconhecendoemboraque,noque

concerne à estrutura e à reinterpretação cristã do mito de Antígona, a

recriaçãosedistanciadoseuhipotexto,osAA.consideramqueamesmase

aproximadomodelosofocliano,tantonaformacomorecuperaoessencialdo

conflitotrágicoparaoadaptaràrealidadesociopolíticavividaemEspanha

emmeados do século XX, como na importância que atribui ao Coro na

economiadramática(p.390).EmLasangredeAntígona,concluem,oCorotem

umpapelpreponderante,poucohabitualemrecriaçõesdetragédiasclássicas

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (25)

Recensõesenotíciasbibliográficas

403

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

levadasacabonoséculoXX.EsteCoro, talcomoodomodelosofocliano,

comenta,opina eposiciona‐sediantedo conflito trágico.Quer atravésda

recitaçãoqueratravésdocanto,apoiadonamúsicadeSalvadorBacarisse,

contribui para a criação de uma ambiência triste e patética que põe em

evidênciaa“impossibilidadedeum ritualde comunhão”,numaEspanha

que,dilaceradapelaguerracivil,viviasobumaferozditadura(pp.405‐406).

AextensabibliografiaqueacompanhaesteestudoatestaorigordosseusAA.

Romulo Pianacci, “Refuncionalización del coro trágico en el

espectáculocontemporâneo”(pp.409‐418),estudaopapeldocoroemtrês

espectáculos contemporâneos de criadoresmuito distintos:AChorus Line

(1985),filmemusicaldirigidopelobritânicoRichardAttenborough,baseado

nocélebremusicaldaBroadwaycriadoporMichaelBennetem1975;Asíesla

vida(1999),filmedeArturoRipstein,baseadonaMedeiadeSéneca;AntígonaS,

linaje de hembras (2001), do argentino JorgeHuertas.Da análise dos três

exemplos escolhidos, o A. conclui que o coro, apesar de ter uma forte

intervençãomusical,atravésdocantoedadança,apresentacaracterísticas

significativamentediferentes, revelando,dessemodo, a riquezaquepode

alcançarnoespectáculocontemporâneoepermitindoquesemantenhaviva

atradiçãoclássica.

OúltimoestudodestelivropertenceaAndrés‐PociñaeAuroraLópez,

“SustitucionesdelcoroenversionescinematográficasdeFedra”(pp.419‐433),

queseocupamdaquestãodasubstituiçãodoscorosnasrecriaçõesmodernas,

tomandocomoobjectodeestudo trêsactualizaçõescinematográficasdeum

temaquedespertou,econtinuaadespertar,particularinteresse,odahistória

deFedraeHipólito,presentenoshipotextosdeEurípideseSéneca,astragédias

HipólitoeFedra,respectivamente.Sãoelas:Fedra,dirigidaporManuelMurOti,

1956;Desireundertheelms,deDelberyMann,1958;Phaedra,dirigidaporJules

Dassin,1962.Seocorodasmulheresemãesdosmarinheirosnaufragadosque

escutamosnomesdasvítimasrepresenta,nofilmedeManuelMurOti,oúnico

cororealmentetrágicodastrêsversõescinematográficas(p.432),averdadeé

queemnenhumadasrecriaçõescomparadasserenunciouaesseelementotão

importantenosmodelosantigos.Emtodasfacilmentesereconheceapresença

deumcoro,querpelasuacomposiçãoquerpelasuaintervençãoemmomentos

fulcraisdaspelículas.

OlivroincluiumCDcomareproduçãode5fragmentos(músicaecanto)

daÓpera La sangre deAntígona.Misterio en tres actos, de José Bergamín e

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (26)

404

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

SalvadorBacarisse,interpretadapelaprimeiravezporocasiãodocongresso

quedeuorigemaestevolumeeacujoestudosededicaumdostextosincluídos

naparteII.

A apresentação, no final, do muito útil Índice de Nomes Antigos

(pp.435‐445)vemampliarovalordolivro.Assinalamos,noentanto,sobretudo

quandosetratadeumvolumedestanatureza,aausênciadeumabibliografia

finalconjuntaedeumíndiceremissivoaosautoresreferenciadosnosestudos

coligidos.

Emsuma,este livro, reunindocontribuiçõesdemuitodiferentespro‐

veniências,brindaoleitorcomumaamplaevariadainvestigaçãosobreopapel

eaimportânciadocoronatragédiaecomédiaclássicaseasuarecepçãonaarte

contemporânea(literatura,músicaecinema),constituindo,porisso,umcontri‐

butopreciosoparaoconhecimentodoteatroclássicogregoeumareferência

essencialnodomíniodoestudodasuapervivêncianaculturaocidental.

JohannaHanink (2017),TheClassicalDebt.GreekAntiquity inanEraof

Austerity.Cambridge(MA)&London,HarvardUniversityPress,338pp.

[ISBN:978‐06‐749‐7154‐7].

HELENAGONZÁLEZVAQUERIZO6(UniversidadAutónomadeMadrid—España)

En su reciente monografía Johanna Hanink, profesora titular de

ClásicasenlaUniversidaddeBrown,abordalacuestióndela“deudagriega”

nodesdeelpuntodevistadeloqueGreciadebeasusacreedoresfinancieros,

sinodesdeeldeladeudaquelacivilizaciónoccidentaltienecontraídaconla

Antigüedadclásica.Esta“deudaclásica”secomponedellegadoinmaterial

queconformaríanprincipioscomolademocracia,lafilosofía,lasmatemáticas

oelarte,ydelosrestosmaterialesdeunaculturaenlaquehaqueridoverse

elorigende lacivilizaciónoccidental.Haninkestudiaelpapelde laAnti‐

güedadgriegaenelperiododeausteridadpropiciadoporlacrisiseconómica

aplicandoconceptosbienasentadossobrelaidealizacióndelpasadogriego

desde lapropiaAtenasclásica,pasandopor lossiglosXVIIIyXIXyhasta

nuestrosdías.Elinterésfundamentaldelestudioradica,porunlado,enla

constatación de los efectos del “cripto‐colonialismo” (MichaelHertzfeld)

o“colonizacióndelamente”(ArtemisLeontis)sobreGreciayenespecialen

6[emailprotected].ReseñaenmarcadaenelproyectoMarginaliaClassica

Hodierna.TradiciónyRecepciónClásicaenlaCulturadeMasasContemporánea(FFI2015‐

66942‐P).

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (27)

Recensõesenotíciasbibliográficas

405

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

el contexto de la crisis. Por otro, en la paradoja, implícita en el título y

presentealolargodeltrabajo,dequeelpaísmásendeudadodeEuropasea

aquélalquenuestrassociedadesreconocendebermásenelplanointelectual.

Ellibro,magníficamenteeditadoporHarvardUniversityPress,consta

deunprefacio, siete capítulos,un epílogo,notas, bibliografía comentada,

créditosdelasilustracioneseindex.Sutonoesdivulgativoyamenosinque

lefalterigoracadémico,porloquesulecturapuederesultarinteresantetanto

paraelaficionadocomoparaelespecialista.

EnelprefacioHaninkexplicalagénesisdelaobrayempleaunproce‐

dimientoqueserepitealcomienzodecadacapítulo: lautilizacióndeuna

anécdotareferidaalaculturapopular,enestecasouncómicdeArkas,como

introducción a cuestiones de acuciante actualidad o de índole teórica.

Elprimer capítulo, “Champions of theWest” (CampeonesdeOccidente),

sirvedeintroduccióngeneralaltemadellibroydepresentación.

Enloscapítulossiguienteslaautoraexaminacómoseformóyevolu‐

cionó lanocióndeunadeudaabstractaconGreciaquehaservidoysirve

como campodebatalla en cuestionesdemayor envergadura.El segundo

capítulo,“HowAthensBuiltit*Brand”(CómoconstruyóAtenassumarca),

analizalapropagandapolíticaateniensequecontribuyóalacreaciónyaen

laAntigüedaddelaimagenidealdelacivilizacióngriega.Eltercercapítulo,

“ColonizersofanAntiqueLand”(Colonizadoresdeunatierraantigua),da

unsaltohaciadelantehastalaépocaenquelosprimerosviajerosoccidentales

marcharonaGreciaconsubagajeclasicistay,amenudo,quedarondesilu‐

sionadosporlarealidaddelpaís.Enelcuartocapítulo,“FromStateofMind

toNation‐State”(Deestadomentalaestadonacional),seabordalaGuerra

deIndependenciayelpapeldelaspotenciaseuropeasenlaformacióndeuna

identidadoccidentalparaelnuevoestado.Elquintocapítulo,“GreekMiracle

2.0” (Milagrogriego2.0),ahondaen laambivalente relaciónquedesde la

independenciaseestablecióentreGreciaysusadmiradoresoccidentalesyen

cómoenmomentosdecisivosellegadoclásicohasidoreivindicadoporuna

yotraparte.Elsextocapítulo,“ClassicalDebtinCrisis”(Ladeudaclásicaen

crisis),secentraenlosañospreviosalcolapsoeconómicoyenlapropiacrisis,

analizandoelpapeldelasmetáforasclásicaseneltratamientodeestaenlos

mediosdecomunicación.Elséptimoyúltimocapítulo,“WeAreAllGreeks?”

(¿Somostodosgriegos?),terminadedesmontarelidealdelclasicismogriego,

poniendosobrelamesalasrealidadesdenuestrosigloyladiversidaddela

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (28)

406

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

sociedadgriegaactual.Finalmente,enelepílogoHaninkhacealgunassuge‐

renciasa losdocentesparaque tenganencuenta las implicacionesdeno‐

cionestanasentadascomoqueGreciaeslacunadelacivilizaciónoccidental,

quehuboun“milagrogriego”oqueexisteuna“deudaclásica”,yparaque

seanconscientesdelapresenciadeundiscursoyunideariodeterminadosen

granpartedelosmanualesymaterialesmanejadosenlaenseñanza.

Sinduda,estasúltimasadvertenciasdeHanink resultanmuyperti‐

nentesyconstituyenunpuntofuerte,aunquesecundario,de laobra.Otro

aspecto tangencial,peromuypositivo, es elhechodeque laautorahaya

podidocontarenmúltiplesocasionesconeltestimoniodirectodepersona‐

lidadestanrelevantescomoelarqueólogoYannisHamilakisoelex‐ministro

de finanzasgriegoYanisVaroufakis.Y sinduda es elogiablequeHanink

aclare su postura de no injerencia respecto a reivindicaciones griegas o

foráneas relacionadas con la “deuda clásica”.No obstante, laneutralidad

absolutanoesposiblenideseableyenelcasode laautoraelfilhelenismo

resultaevidente.Pero,quizá,lamayoraportacióndeestamonografíaseala

luzqueHaninkarrojasobrelasociedadgriegaactualysobrefenómenosque

están teniendo lugar en esta sin que amenudo elmundo occidental sea

demasiadoconsciente:fenómenoscomolapoesíaoelcinecontemporáneos

quenobebenexclusivamentedelaAntigüedadclásica,sinoqueilustranuna

identidadneogriegapropia.

Françoise Frazier & Olivier Guerrier (coords.), Plutarque. Éditions,

Traductions,Paratextes.CoimbraeSãoPaulo,ImprensadaUniversidade

de Coimbra e Annablume, 2016. 229 pp. ISBN 978‐989‐26‐1305‐5.

DOI:https://doi.org/10.14195/978‐989‐26‐1306‐2.

JOAQUIMPINHEIRO(UniversidadedaMadeira;CentrodeEstudosClássicoseHumanísticosda

UniversidadedeCoimbra–Portugal)7

Reúne este volume trabalhos que foram apresentados no Réseau

Thématique Plutarque Européen, na Universidade de Toulouse, que

decorreu em Setembrode 2014.Coincidiu, infelizmente, a suapublicação

comofalecimentodaProfessoraFrançoiseFrazier,ilustreclassicistaeuma

dasprincipaisinvestigadoras,nasduasúltimasdecádas,daobradePlutarco.

Comtodaajustiça,olivroabrecomumanotaprévia,emque,deformabreve,

são realçadososvaloresdamulher eo saberdaprofessora, com especial

7[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (29)

Recensõesenotíciasbibliográficas

407

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

ênfasenoseuextraordináriotrabalhocientífico,filológicoepedagógico.Os

caminhosdeanálise filológica,degrandeprofundidade filosófica,que foi

abrindosãoamaiorherançaqueFrançoiseFraziernosdeixa,sobretudopara

aquelesquedeformamaispróximaforamouvindoassuasliçõesereflexões.

Naapresentaçãodovolume,oseditoresexplicamofactode,desdea

criaçãodaRedeEuropeia,otemadarecepçãodePlutarcoserumdosmais

importantes.Por isso,emToulouse,oprincipalobjectivo foiode reflectir

sobreapresençadePlutarconaRenascençaenoHumanismo,nãosósobreo

temada transmissãodopensamento, comoquestõesmaisdodomínioda

ecdótica.Nessesentido,osdozeestudosqueintegramestevolumeestãodis‐

tribuídos eorganizados em trêspartes: 1ªparte)TraductionsHumanistes

(cinco estudos); 2ª parte) Philologues humanistes et éditions modernes

(quatro);3ªparte)Réceptionsetparatextes(três).

Na primeira parte, F. Tanga (“Il De fraterno amore di Plutarco tra

ThomasNaogeorgus,LudovicusRussarduseStephanusNiger”)demonstra

comointelectuaisdoséculoXVIestudaram,traduzirameeditaramotratado

DefraternoamoredePlutarco,usandoalíngualatina.NocasodeStephanus

Niger(versãolatinadonomeStefanoNegri),fezumaaemulatiodotratadode

Plutarco,aquedeuotítulodeDefraternabenevolentia,tratadoquefoipubli‐

cadoem1518eemqueoautorrevelaestarmaisinteressadocomotommoral

edidácticodotextodoquecomaspectosmaisformaiseargumentativos.Por

suavez,ThomasNaogeorgus (versão latinadonomeThomasKirchmaier)

publicou,emmeadosdoséculoXVI,uma tradução latinadesete tratados

moraisdePlutarco,emque se incluioDe fraterno amore,degrandevalor

filológicoefilosófico,comooA.provacomdiversosexemplos,comparando

atraduçãolatinacomváriasediçõesdaépocaecomediçõesmaisrecentes

(e.g.,ateubneriana).TambémLudovicusRussardus(versãolatinadonome

LouisRousard),alémdeoutros trabalhosde tradução,publicou,em1559,

umaversão latinado tratadoDe fraterno amore, trabalhoque sedistingue,

igualmente,pelaprobidadedo trabalho filológico.ComooA.realça,estas

traduçõescontinuamaserúteisparaquemsededicaàcríticatextual.

P.VolpeCacciatore(“LetraduzionidelDeaudiendodiPlutarcoinEtà

Umanistica”),usandoumametodologiafilológicabemdefinida,emgrande

proximidade como texto, confrontaváriospassosdo tratadoDe audiendo

(37D, 38E‐F, 39E‐40A, 41C, 41E‐F, 42C, 43B) com as traduções latinas de

Paceus (versão latina do nome Richard Pace, 1482‐1536), Calphurnius

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (30)

408

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

(GiovanniCalfurnio,1443‐1503)eLuscinius(OthmarLuscinius,1487‐1537).

Alémdisso,aA.reforçaasuaanálisecomacomparaçãoquefazcomedições

maisrecentesdoreferido tratadodePlutarco,detendo‐seem interessantes

comentáriosdecríticatextual.Àsemelhançadoartigoanterior,ficademons‐

tradoovalordastraduçõesdosHumanistasparaacompreensãodotextode

Plutarco.

OcontributodeG.Pace(“Terminologiateatraleplutarcheanelleprime

traduzioniastampa”) temporobjectivoanalisarcomoo léxico teatralem

algunspassosdasbiografiasdePlutarco(Pomp.9.3;Brut.31.6;Demetr.53.1;

Mar.27.2;Luc.11.2;Luc.21.3;Nic.5.3;Mar.17.5;Pomp.31.6)étraduzidonas

ediçõescompiladasporGiovanniAntonioCampano,porvoltade1470,em

queseincluemhumanistascomoJacopoAngeli,DonatoAcciaiuoli,Antonio

Pacini, Leonardo Giustinian e Alamanno Rinuccini. Além disso, a A.

estabeleceumacomparaçãocomastraduçõesdeAmyoteXylander.Conclui‐

sequeas traduçõesseguemdiversasmodalidades:porvezesa traduçãoé

bastanteliteral,masnoutrasacentua‐seovalormetafórico,sejapormeiode

uma terminologia teatralmais técnica, sejamenos técnica.Alémdisso,ao

contrário da tradução de Amyot, a de Xylander opta por uma maior

“concentrazioneexpressiva”(64).

Como profunda conhecedora do trabalho de tradução de Amyot,

F.Frazier (“Amyot traducteur des Oeuvres Morales. Des Marginalia à la

version française: l’utilisation des Vies”) analisa, de forma exaustiva, os

marginalia da tradução francesa dos Moralia, em particular as catorze

anotaçõesqueremetemparaasVitae.Dessaforma,percebe‐seaintençãodo

tradutor em elucidar a compreensão filológica e tambémde conteúdodo

textogrego.Alémdisso,aA.dátrêsexemplosde‘traductionsaugmentées’

dos Moralia a partir das Vitae. Com isso, demonstra como o complexo

trabalhodetraduçãodeAmyot,porvezesderecriaçãoemfunçãodoleitor,

recorrea textosparalelos, comoasbiografiaseaoutros textosdeautores

clássicos, que aproximam, na perspectiva daA., a tradução da forma de

criaçãoliterária.

L. LesageGárriga (“Lemythe duDe facie de Plutarque traduit par

Amyot”),porsuavez,baseandonolabordetraduçãodeAmyotdotratado

Defacie,conservadonaediçãodeBâlede1542,analisaasprincipaiscaracte‐

rísticasdesseexercíciode tradução,emparticularomitoescatológicoque

surgenofinaldoreferidotratado(940F‐945E).AA.identifica,natradução,

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (31)

Recensõesenotíciasbibliográficas

409

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

vários exemplos de introdução de leituras pessoais, de pequenos ajusta‐

mentoseexplicaçõesnosentidodetornarotextomaiscompreensívelparao

leitoretambémdeomissões.Alémdisso,estecontributorealçaofactodeas

ediçõesdoséculoXIX,comoporexemploadeWyttenbach, incorporarem

muitasdaspropostasdeAmyot,e,deformaerrada,asediçõesdoséculoXX,

nomeadamenteasdeM.PolenzeH.Cherniss,sedeclaremdevedorasdas

ediçõesdoséculoXIX,quando,naverdade,deveriamremeterparaotrabalho

deAmyot.Logo, sugere‐se que o aparato críticodessas ediçõesdeva ser

revisto,emconsonânciacomumaleituracorrectadatradiçãotextual.

Oprimeirotrabalhoda2ªParteéodeB.Demulder(“AdrienTurnèbe

in recent editions of Plutarch’s De animae procreatione”) que interpreta a

influência do humanistaAdrien Turnèbe (em latim,Adrianus Turnebus,

1512‐1565), muito elogiado porMontaigne, em três edições recentes do

tratadoDe animae procreatione: a da Teubner deK.Hubert, corrigida por

H.Drexler(1959),adaLoebdaresponsabilidadedeH.Cherniss(1979)eado

CorpusPlutarchiMoraliumpor F. Ferrari eL.Baldi (2002).De facto, estas

ediçõesremetem,noaparatocrítico,paraTurnèbe,mas,comooA.salienta,

háalgunserrosdeinterpretação.Nãoéobjectivodesteartigoanalisartodos

osmarginaliadeTurnèbe,nemsimplesmentecriticaraformacomoasedições

recentes,noaparatocrítico,osusam,masantesenfatizaracomplexidadedo

assunto.O trabalhodeTurnèbe,que teráusado como fonteprincipalum

exemplar da edição deAldoManúcio, devemerecer omaior interesse e

cuidadodeanálise,poisnãofoiapenas tradutoroueditor,masumatento

leitordotextodePlutarco.

OestudodeA.Pérez‐Jiménez(“Loshabitantsdelaluna(Plu.,Defac.

944C‐945B).Notascríticassobrelaspropuestastextualesytraduccionesdel

XVI”) analisa alguns passos complexos do De facie, em que aparecem

referênciasaosdaimones,tendoporbasealeituradeeruditosdoséculoXVI,

comoLeonicus,Vietorius,Schottius,Turnebuseoutrosanónimos,bemcomo

astraduçõesdosséculosXVI‐XVIIdeXylander,Amyot,CruseriuseKeppler.

AapuradaecuidadaanálisedoA.permiteconcluirqueasanotaçõescríticas

eastraduçõesdoshumanistas,emparticularaagudezafilológicadeAmyot,

tiveram um impacte elevado no estabelecimento do texto pelos editores,

desdeWittenbachatémaisrecentementeDonini.

S.Amendola (“SuduepassidelDe seranuminisvindicta: traduzioni

umanistiche, ecdótica ed esegesimoderne”) demonstra como o trabalho

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (32)

410

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

filológico dos humanistas (Pirckheimer, Connan, Hottamn, Tarcagnota,

Gandino,Gracián,Xylander,Estienne,Cruserius,Amyot,entreoutros)pode

enriquecer e esclarecer a interpretação feita pela ecdóticamoderna (por

exemplo, Reiske,Hackett, Peabody, Prickard, Pohlenz, Ziegler, Vernière,

Guidorizzi ouAguilar). Para o provar, oA. analisa, em pormenor, dois

passosdo tratadoDeseranuminisvindicta (550B‐Ce552D‐E)quesuscitam

váriasdificuldadesdeinterpretação.

Aconcluira2ªParte,oartigodeF.Becchi(“Problèmestextuelsetchoix

d’interpretative choices in Plutarch’s writing on animal psychology”)

defendeanecessidadedesedistinguiroactodetraduzirverbumdeverbodo

trabalho filológico traducereadsententiam,sendoestemétodomaiscaracte‐

rístico dos humanistas.Apontando, commuita clareza, vários problemas

textuais ealgumashipótesesde interpretação,oA.analisadois textosdo

tratadoBrutaanimalia(987F,sobreacoragem;992E,dedicadoàinteligência

dosanimais)eumtextodotratadoDesollertiaanimalium(963F,relacionado

comateoriaestóicaeperipatéticasobreainteligênciadosanimais).Nocaso

do tratado Bruta animalia, tem‐se em conta, sobretudo, três traduções do

séculoXV (Cassarino,Birago eRegio), enquantopara o outro tratadode

PlutarcosecomparamastraduçõesdeXylander,WyttenbacheDübner.

A3ªPartedestelivrocomeçacomocontributodeM.Meeusen(“The

shiftingrealitiesofPlutarch’snaturalproblems.Anoteonthereceptionof

Quaestiones naturales”). Sem se deter em questões filológicas, o objectivo

principaldoA.édaralgunsexemplosda recepçãodo tratadoQuaestiones

naturales,apontandoquatroexemplos:MichaelPsellus(Deomnifariadoctrina,

séc.XI), JuandePineda(Diálogos familiaresdaAgriculturaCristiana,1589)e

duastraduçõeslatinasdotratadodeGybertusLongolius(1542)ePedroJuan

Núñez(1554).Defacto,estetratadofoibastantevalorizado,talvezporrevelar

influênciasdosProblemataphysica,oquelevou,deformaerrada,aclassificar

Plutarcode‘cientistaaristotélico’,esquecendo‐seomodeloplatónico.

A.Martins(“L’éditionetlatraductiondePlutarquedansl’oeuvrede

l’humaniste portugais Andreas Eborensis: Loci communes sententiarum et

exemplorum(1569)”),conscientedoprocessodinâmicodarecepção,comoa

imitatio ou a contaminatio, identifica e analisa a presença dosMoralia de

PlutarconaobraLocicommunessententiarumetexemplorum(1569),deAndreas

Eborensis (versão latina do nomeAndréRodrigues de Évora), um teste‐

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (33)

Recensõesenotíciasbibliográficas

411

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

munhorelevantedecomoaobradoQueronensetambémexerceuumconsi‐

derávelfascínionoshumanistasportugueses.

Por fim, o estudo de O. Guerrier (“L’ordre du discours: sur les

sommairesetmanchettesdes«contrefaçons»GoulartdesOeuvresMoraleset

meslées”)realçaaimportânciadaobradeGoulart,intituladaOeuvresMorales

etmesléesdePlutarque(1581)econhecidapelotermo“contrefaçons”,porter

sidoaprimeirarecepção,deâmbitoeditorial,do“Plutarquefrançois”eter

gozadodegrandeprestígioaté1640.ComooA.defende,pelasuaestrutura

eanotações, tratar‐se‐iadeumaobra sobretudo comobjectivodidácticoe

que,alémdisso,serviudeguiaparaoPlutarcodeAmyot.Procura‐se,ainda,

apontaralgumas tendênciasculturaise religiosasporpartedeGoulartna

leituradePlutarco.

ApardeoutraspublicaçõessobreatraditiodaobradePlutarco,este

volume,alémdemuitasoutras reflexões, enfatizaumaperspectivamuito

interessante:quantomaisconhecermosotrabalhorealizadopordezenasde

eruditos,sobretudoentreosséculosXVaXVI,melhorsaberemosinterpretar

otextoplutarquiano.Estamos,semdúvida,napresençadeumvolumecom

estudosquecorrespondemaosobjectivosdefinidosequerevelam,deforma

rigorosa,umsólidoconhecimentodaobradePlutarco,sejanumavertente

mais filológica, seja, sobretudo, com a intenção de valorizar a traditio.

Saliente‐se, ainda, a utilidade para o leitor do index locorum e do index

nominum.

AnaMaríaS.Tarrío,LeitoresdosClássicos.PortugaleItália,séculosXVe

XVI:umageografiadoprimeirohumanismoemPortugal.NotadeVincenzo

Fera. Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal – Centro de Estudos

Clássicos,2015,127pp.,il.–(catálogos)ISBN978‐972‐565‐567‐2(ed.impr.);

978‐972‐565‐568‐9(ed.eletrónica).

XAVIERVANBINNEBEKE8(CatholicUniversityLeuven—Belgium)

Thepublicationunder reviewdocuments the exhibition Leitores dos

Clássicos.EdiçõesitalianasnatransiçãodoséculoXVparaoséculoXVI,heldfrom

6November2015to30January2016intheBibliotecaNacionaldePortugal

(BNP).Twentyitemsfromthelibrarywereonshow:sixteenItalianincuna‐

8[emailprotected];[emailprotected].

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (34)

412

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

bula, three Spanishones, and abook issued inBasle in the 16th century9.

Thecatalogue,authoredbyAnaTarríooftheCentrodeEstudosClássicosin

Lisbon,openswithaprologuethatpositionsPortugalduringthereignsof

João II and Manuel I on the fringes of the Europe‐wide intellectual,

educational,andliterarycultureandpracticeofhumanism.Threeexhibition

items— Inc.523,832,and462—areexplicitlysingledouton thebasisof

theirprovenanceandcontemporarymarginalia.Theyembodytheimportof

humanisteditionsoftheClassicsfromItalytoPortugal,thedevelopmentof

educationand literarycompositionatthePortuguesecourt,andthephilo‐

logicalpreparationofPortuguese students in Italy.Theother exhibitsare

similarlypresentedaswitnessestothesedevelopments,thoughsignsoftheir

useinPortugalduringthelate15thandearly16thcenturiesaresaidtobeless

evident.Tarríounderscores,inaddition,theneedforfurtherinvestigations

intotheItalianincunabulaoftheBNPandotherPortuguesecollections,and

announces that thematerials on showwill be relevant for her thematic

epilogue dealing with the chronology and definition of Portuguese

humanism, a difficult field of research « inteiramente dependente da

elucidação da cronologia e modalidades de receção dos modelos

humanísticosoriundosdaPenínsulaItálica.»(11).

After the prologue Vincenzo Fera considers in an articulate note

AgnoloPoliziano’s sevenmonths’ course onPliny’sNaturalHistory for a

group of English andPortuguese students in 1489‐1490.He illustrates in

particulartheimportanceoftheaforementionedInc.462,acopyofFilippo

Beroaldo’s1480editionofPliny.Ithas theex‐librisofTristãoTeixeira, the

sonofaPortuguesecourtierwhosenttheyoungboyandhisbrothersÁlvaro

andLuístostudywithPolizianoinFlorence.InafewpagesFeraisableto

capturetheessential:thePliny,andinparticularitsfascinating,multi‐layered

apparatus, constitute a crucialwitness to the philological endeavors and

teachingsofPoliziano.Thenotes transmit, for instance, readings froman

unidentifiedsourceexaminedbythescholarduringhislectures,andprovide

akeytocriticallyanalyzehissubsequentuseoftheCastigationesPlinianaeof

ErmolaoBarbaro. Fera’s conclusion that theTeixeira activelyparticipated

during the course is, moreover, convincing. Poliziano praises the three

brothersinalettertotheirfather(POLITIANUS(1498)Ep.X,3),anditappears

9Cf.Leitoresn.1.InthetextreferencestopagenumbersfromLeitoresareplaced

betweenroundbrackets.

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (35)

Recensõesenotíciasbibliográficas

413

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

Tristãoaddedpartofthenotes.Whatismore,Iamcertainthatmanyofthe

remainingmarginaliaareundoubtedlyby the samehandasNaples,Bibl.

Nazionale,V.D.43,arecollectaofPoliziano’scourseonSvetonius(1490/91)

thatwithgood reasonwasattributedbyFera in1983 to eitherTristãoor

Álvaro10. Anyway, a future edition of the marginalia will undoubtedly

includeacarefulpaleographicanalysis,andthankstothee‐copyprovided

bytheBNPpreliminaryworkcanstartwithoutdelay11.

NextAnaTarríotreatstheexhibitsintwelvechaptersthataboundin

eruditedetailand touchupon interesting topics,suchas,Poliziano’sdocta

varietasandthedevelopmentofRomancepoetryatthecourtofJoãoIIand

ManuelI(ch.5),Pliny,thegeographicnomenclatureofhumanism,andthe

conceptoftranslatioimperii(ch.6),thereceptionofRomanelegiacpoetry(ch.

9),PortuguesetranslationsofCicero(ch.10),andtheinfluenceofAntoniode

Nebrija on Portuguese studia humanitatis (ch. 11), to name but a few.

ThroughoutGarciadeResende’sCancioneirogeral(1516)anditspoetsplaya

pivotalrole.Entirelynew tomeare,admittedly, theuseofandreflections

concerning «imagética poética quinhentista» (ch. 8) and the «Quinto

Império»(ch.12).

But let us focus on the sections that discuss the three incunabula

earmarkedintheprologue.Chapter1—Aimportaçãodeimpressositalianose

aeducaçãohumanisticanascortesdeD.JoãoIIeD.ManuelI—features,tobegin

with,Inc.523.PrimarilythevolumeservestobuttressTarrío’snarrativethat

theimportofItalianbooksduringthelate15thandearly16thcenturiesshould

notbeoverlookedwhenconsideringtheimpactofGutenbergandhumanism

oneducationalreformsinPortugal.Inc.523isanunfortunatechoicethough,

asitisunlikelytohavearrivedinPortugalatanearlydate:thenoteatthe

endofthevolumedoesnotrecorditssaleinorimporttoLisbonaduringthe

renaissanceasTarríosuggestswithhertranscription,butconcernsTortonain

Piemonte, Italy. Various ex‐libris extant indicate, moreover, that the

incunabulum belonged to amonastery in this town throughout the early

modernperiod.12Incontrast,Tarríodoessucceedinaddressingthethemeof

10FERA(1983)21.11SeeLeitoresn.88;http://purl.pt/26240.Erasednotesontheflyleavescanonly

bestudiedinsitu.12SULMENDES(1988)n°1053.Areferencetoabookseller,inItalianandpossibly

18thc.,isrecordedatthebeg.ofbook2.Forotherexhibitseffectivelyneverhandledby

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (36)

414

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

thischapterbydiscussingquitediligentlytheroyalbookpatronageandthe

librariesofPortugueseintellectuals,someofwhichwerewellstockedwith

works printed in Italy (21‐27). She highlights, for instance, the royal

concessions to (French)booksellers,and a coupleofhumanist editions in

Manuel I’spossession. JorgeVazdaCosta (d.1501)andhis classicaland

humanistbooksarealsointroduced,aswellasJoãoRodriguesSádeMeneses

andthetextsheusedforthecompositionofhisDePlatano(1527‐1537),and

CataldoSiculo,theinfluentialItalianpreceptoratthePortuguesecourtwho

undoubtedlyownedandpromotedtheeditionsofhishomeland.Someofher

arguments are more conclusive than others.Why, for instance, cite the

StatutesoftheBologneselibrarii(24)?Moreover,itoughttobeunderscored

that many books were presumably acquired in Italy, one of the main

destinationsoftheculturedandecclesiasticalPortugueseelite,andtherefore

not‘commercially’imported.Nonetheless,onthewholethissectionmakes

for interesting reading, especially when we take a closer look at the

annotationsinsomeofthevolumes.

Inc.832,containingtheHeroidesofOvidprintedinVenicein1492with

commentariesbyAntonioVolsco andUbertinoClerico, is at the centerof

attentioninthesecondchapter.Itdisplaysallthemarksofclassroomuseand

isagoodexampleofanItalianincunabulumhandledbyPortuguesestudents:

both textandhumanistcommentaryhavebeenannotated inLatinand the

vernacular.Tarrío’sanalysisoftheorthographyofthePortugueseglossesis

informed,andallowshertoassignadateclosetodeResende’sCancioneiro.

Unfortunatelyreadersoftencannoteasilycheckthepassagesdiscussed,and

whiletheassessmentofthehandwritingoftheannotators(30n.42)isfairly

unproblematic,thetranscriptionsprovidedinfootnotes53‐55,57‐61aretoo

oftenincorrectorinconsistent.Particularlydisconcertingisfootnote59which

dealswithgrammaticalglossing:thesecondannotatinghand(M2)writesa

perfectlyunderstandablesubmersus,butTarríonotes«[…]Did60M2nebibat

aequoreas naufragus hostis aquas ‘subjuntiva’, o anotador explica o valordo

termo‘ne’optativo[…]»!Bethatasitmay,Inc.832isindubitablyofsignify‐

canceforthehistoryofeducationinrenaissancePortugalandTarríohasfacili‐

Portuguese renaissance readers see comments to ch. 5 infra. The remaining items all

presumablydohaveafairlyearlyLusitanianprovenance;still,onlyInc.462’sprovenance

history canbe accurately reconstructed.Note: Ididnot consult thePlutarchvolumes

(ch.12).

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (37)

Recensõesenotíciasbibliográficas

415

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

tated future research.Hercontextualizationof theHeroides is, for instance,

ultimately of interest. She points out that it was mined by the poets

«alatinados»of theCancioneiro,andusedbyPoliziano’s formerpupilLuís

TeixeiratoteachLatintoManuelI’sson,thefuturekingJoãoIII.

AfterabriefappraisalofthereceptioninEuropeofeditionsofItalian

humanist commentarieson theClassics (ch.3), Inc.462, theTeixeira,and

D.Joãoreturntothestage(ch.4).Tarríosuggeststhat,afterTristãoTeixeira

haddiedin1497,oneofhisbrothersbroughttheincunabulumtoPortugal,

«juntamentecomoutrasediçõesdeautoreslatinosegregos,adquiridospelos

trêsirmãos».Whilethelatterclaimislikely,butnotproven,itisworthyof

notethat,accordingtoanearly17thcenturysource,LuísTeixeiraincludedin

hiscurriculumforD.João«algumacousadePlinio»—thatis,presumably,

theNaturalHistory.The impact ofPliny’s compendium and its humanist

editorialtraditiononworksbyothercourtiersis,moreover,evident.Tarrío

refers,forinstance,toMartimdeFigueiredo’sCommentuminPliniiNaturalis

Historiae Prologum (1529), one of the very few humanistic commentaries

printed in 16th century Portugal. She also highlights how Inc. 462 later

belongedtoGasparBarreiros(d.1574),anotherprominentintellectual.Thus

Teixeira’sPlinyprovidesnot only an excellent sample of thephilological

prowessofPoliziano—asVincenzoFerahasshown —,butalsoaninva‐

luablewitnesstohowhumanistreadingpracticesandmethodscouldtake

rootamongthemembersofPortugal’selite.Inc.462is,undeniably,oneof

themosteloquentitemsunlockedbythisexhibition(cf.ch.11;TARRÍO2007).

The epilogue is lengthy and theoretical. Tarrío recaps, firstly, the

scholarlydebateconcerning thechronologyofPortuguesehumanism.She

sideswithAméricodaCostaRamalho,designating theperiodbefore the

publication of de Figueiredo’s commentary the springtime of Lusitanian

studiahumanitatis.ButunlikeCostaRamalho,whopreferredasstartingpoint

Cataldo’sarrivalat the courtof João II in1485,Tarríoopts foragradual

timeline,foraprocess«[…]queremeteparaoséculoXVeassentanaprogres‐

sivamodificação[…]daformaçãodaselitesportuguesas.»(92).Secondlyshe

analyzeswithinthePortuguesecontextthetermhumanista,(imperial)civic

humanism, and philological humanism, concluding, ultimately, that the

commondenominator is educationoriginating from anew approach and

interpretationoftheClassicsandofthe«própriaAntiguidade,[…]deacordo

comasdemandasletradasdasdiferentescortes.»(90).Theclosingremarks

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (38)

416

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

do paint, in view of the prologue’s emphasis on Italian models (11), a

somewhatmorediversifiedpicture:Italianhumanistcultureis,forinstance,

bedazzledbythePortuguesediscoveries(93),andconcerningthetranslator

poetsoftheCancioneiroTarríonotesthatitiskeytoavoid«ospontosdevista

excessivamenteitalo‐cêntricos»(95).

Tarrío has opted for a scholarly approach, and not to tailor the

publicationforabroadpublic.Theresultisaninformativebook,butnotan

easy read.Humanism inearlymodernEurope, thecommentary tradition,

Latin and the vernacular, these topics are treatedwith a certain ability.

Significantmaterialevidencefromtheexhibitsis,however,attimesignored,

or inaccurately described. The division of the chapters in paragraphs is,

moreover,ratherdisjointed:ontheonehandthissimplyisTarrío’sstyle,but

on the other it seems caused by inordinate cut‐and‐paste from earlier

publications.Thepressuretodeliverthecatalogueontimecanbesensedas

well:many references are lacking from the bibliography, onoccasion the

contentmatterofthenotesisinessential,theirdistributionarbitrary,orthey

contradict or duplicate text. Throughout inaccuracies have crept in, and

transcriptionshavenotbeenseriouslycheckedandaregenerallyunreliable.

Regrettably such flaws cannot but reduce the effective impact this

publicationwillhave,notwithstandingtheclearinterestofthemanytopics

it addresses. Inwhat follows, a selection of corrections and additions is

offeredthatwillhopefullyservereadersandresearchers.

Chapter1

1a)Tarríosuggests(25)thatManuelI’s«douslivrosdavydadePutraco

[…]depapel,espritodeletraredomda»(VITERBO(1901)15n°30)werecopiesof

FernándezdePalencia’sPlutarch translationprinted in Seville.The available

evidencedoes,however,pointinadifferentdirection.AnaBuescu(2007,158‐9)

emphasizesthatprinteditemsinManuel’sbooklistaredescribedas«[deletra]

de forma». In the records citedbyBuescu the specification«esprito»,usually

found in descriptions ofManuel’s parchment manuscripts, reappears twice

(VITERBO(1901)15‐16nos29,31).InthePlutarchentryespeciallythetypologyof

the letteror typefacestandsout:«redomda» (cf.also ID.,24n°3).Although it

seemswisetoultimatelyverifythereading–infact,amoderned.ofManuel’s

booklist is long overdue –, it is significant that Latin Plutarch editionswere

generallysetinaRoman,roundfont.Tarrío’svernacularSevillePlutarchis,on

thecontrary,inGothiccharacters.Tobesure,papermanuscriptsofPlutarchina

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (39)

Recensõesenotíciasbibliográficas

417

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

roundhumanistichandarealsoextant,eveniffewinnumber(PADE(2007)2pt.

III). 1b) ForManuel’s «liuro esprito em purgaminho que começa Lionardo

Aremtynoe faladecaualaria» (VITERBO (1901)22n°89)LeonardoBruni’sDe

militiaandhisOratioinfunereNanniStrozziarebettercandidatesthantheHistoria

florentinipopuliindicatedbyAnaBuescu(2007)164,ortheProhemiuminOrationes

HomeriproposedherebyTarrío.Thelatterfundamentallydealswiththeorator’s

art (THIERMANN (1993) 64‐69). Instead, the De militia and Oratio effectively

concerncavalaria,withBrunirejectingtheFrenchchivalricmodeofknighthood

andadvancinganewidealofcivicknighthood.Bothworksareextantinmany

copies,and theDemilitiahasbeen translated intoSpanish.Moreover,oneof

Bruni’smostpopularvernacularpieces,theOrationedettaaNicoloTolentino,has

asimilartheme;evenhisDeprimobellopunico,translatedintovariouslanguages

incl.Spanish,arguablyfitsManuel’svolume.Fromthisperspectivetheentryfirst

andforemostcallsforanexaminationofBruni’sconceptofcavalariawithinthe

Portuguese context. SeeHANKINS (1997) ad ind.; ID. (2006) 138‐39; ID. (2014);

JIMÉNEZSANCRISTÓBAL(2005)1234‐36;BRUNI,L.(MS.BNP,Il.41),Deprimobello

punico,VitaSertorii(parchm.,inItalian,pt.I,correctedbythescribeandtwoother

hands,oneofwhichusesmethodssimilartoBruni’sinthetop‐copyofhisLatin

text,Oxford,Bodl.,Laud.Misc.531,forwhichseeVANBINNEBEKE2012);BITAGAP

(1997‐2014).2)ForadditionsregardingD.JorgedaCostaseeinfra,commentsto

ch.5.3)Tarrío’sstatement(27)thatD.DiogodeSousaenrichedthenewlybuilt

libraryoftheSéofBragawithworksofclassicalandcontemporaryauthors,is

notsupportedbyCOSTA(1985)(cf.esp.ID.16),COSTA(1993)andNASCIMENTO

(1998),allcitedbyTarrío.

Chapter2

By1633Inc.832wascertainlyboundinwithInc.831and833(see«non

prohibitur[…]»notesInc.832,833).Thebindingisacoupleofgenerationsolder,

but probably not before 1576‐77 (cf. id. in Inc. 831). Whatever the exact

chronology,831and832rubbedshouldersfromanearlydateandwereusedby

thesamereader.Inc.831,discussedbrieflyinn.66andch.8,hasbeencutup—

quires are disassembled, texts imperfect—, but if complete it would have

containedtheHeroidesincl.theRescriptioofUlyssestoPenelope(cf.SULMENDES

(1988) n° 932; reprod. ISTC io00134000, v. 2, at 39(e7)b). This Rescriptio is

effectively the text translated by Sá deMeneses and discussed by Tarrío as

lackingfromInc.832’sedition.WhenandwhereInc.831wasdismembered,and

ifdeMenesesusedthisoryetanothereditionforhistranslation,willpresumably

remainamystery(cf.TARRÍO(2002)379).

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (40)

418

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

Chapter3

1)This chapter openswith a briefdescription of Inc. 1432, aVenetian

editionof1493containingOvid’sHeroideswithcommentariesbyAntonioVolsco

andUbertinoClerico,Sappho,andOvid’sLiber in Ibinwithacommentaryby

DomizioCalderini(cf.82).Tarríomaintains(36)humanistcommentariesonthe

ClassicsmadePortuguesereaders—forinstanceofthepresentedition—aware

ofthe«condiçãoinstáveleprovisóriadafixaçãodeumtextoantigo».However,

shefailstoproduceconvincingevidence.CASELLA(1975)isrepeatedlycited,but

focussesprimarilyonthedevelopmentofthecommentators’understandingand

useoftexttransmission,showslittletonointerestinVolscoandUbertino,and

barelycommentson(general)readership.SurprisinglyTarríodoesnotreferto

MARIANO(1993),dealingwithVolsco’sHeroidescommentaryandhistreatment

ofvariants.Evenmoreremarkableisthefactthatshedoesnotdiscussanyofthe

readers’ notes in Inc. 1432. Thus she misses out on important, possibly

corroboratingevidence. Inc.1432,bound inwith Inc.1430and1431,hasbeen

annotatedthroughoutbyatleasttwohands.Onegenerallyaddsindexingnotes

(Leitores, fig. 3), but there are alsomarginal references to Giovanni Tortelli,

Petrarch,eventoJakobLocher’sLatintranslationofBrant’sNarrenschif(1sted.

1497).Themarginalreference«vid.Absteniumfo.6.»toOvid’sIbisisofspecial

interestinthepresentcontext:Itundoubtedlysignalsacriticalreaderwhohad

access toLorenzoAbstemio’sLibriduodequibusdam locisobscurisOvidii in Ibin

(ed.Venice,ca.1494).Oneproblemremains:WasInc.1432reallyinPortugalin

theperiodunderdiscussion;aretheannotatorsPortuguese?Tobesure,sofarI

havenotbeenabletolocateasinglecopyofAbstemio’sworkinaPortuguese

collection.Cf.alsomycommenttochapter6,infra.2)Thefootnotesinthissection

areoftenunclear:Whyreferinn.70andn.72toInc.832ifInc.1432,discussedin

thischapter,containsthesameedition(35);whatisthesenseandmeaningofn.

74(whichPropertiusedition,andwhoisB.Pecci?),orofn.75;whyreferinn.76

toInc.1432,etc.etc.?3)(38)ReadInIbinnotInIbis!

Chapter4

ConcerningInc.462note:1)Theinscription«Car.XIIIJ»,oppositeandin

the same hand as the ex‐libris «De Tristam Teix[eira]» (fol. I)may be a call

number and reflect a practice inaugurated by Coluccio Salutati (d. 1406).

Coluccio’sPliny(Oxford,Bodl.,Auct.T.I.27+BnF,lat.6798),theso‐calledCodex

regiususedbyPolizianoduringhislecturesandunfortunatelynowacephalous,

probablyhadacomparablenote(cf.TARRÍO2007,103;VANBINNEBEKE(2009‐10)

esp.2,app.n°12).2)Ascriptionandchronologyofthemarginalapparatusawait

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (41)

Recensõesenotíciasbibliográficas

419

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

clarification.Itisevident,though,thattheannotationsillustratetheintensityof

Poliziano’s seven months’ curriculum; his presence undoubtedly had a

galvanizingeffectonhisstudents.Asnoted,thehandsoftheex‐librisandofthe

SvetoniusrecollectainNaples—notintheBibliotecaMedicea(40)!—reappear

in the incunabulum.They constitute,at firstglance, twodistinct corporawith

respecttoinkandductus.Preliminaryexaminationsindicate,nonetheless,thata

singlehandmayberesponsible.Asamatteroffact,itwouldnotbesurprisingto

see the handwriting of Tristão develop considerably, even mature, under

Poliziano’sguidance.ThehandsofÁlvaroandLuísprobablyfeatureinInc.462

aswell—bothattendedthecourseandpresumablyalsohandledthebookafter

Tristão’sprematurepassing.Toconsidercarefully,therefore,i.a.:a)ANTT,CC,

II‐115‐178 (autogr.Luís,1524);b)BNP,Res.1000A1‐3 (notseen),acc. toSylvie

Deswarte‐Rosal (2016) 94 n. 34, owned by Luís and with a note possibly

contemporarytohisownership;c)Rome,IPSAR,Ms.S.VI.8(notseen;?autogr.

Álvaro,1528).3)ForfurthervolumesownedbyGasparBarreiros(cf.42),another

possibleannotator,see:SULMENDES(1995)1.1191,p.338(BPADE,Inc.131;not

seen);PINAMARTINS(1994)nos62,82,89(RES558V:annotationsintwohands,

oneagoodItalic,butneithercertainlyBarreiros).

Chapter5

1) Léon Brancas de Lauraguais owned Inc. 146 (cf. the 18th c., French

bookplate),theSaint‐LôprioryinRouenInc.1036(a.1655;SULMENDES(1988)

n°1066),andLeonisdePinaeMendonça,a17thc.intellectualfromGuarda,Inc.

1035(ID.n°1065).Hence,Inc.1035istheonlyincunabulumtohavepossiblybeen

inPortugalinthe16thc.2)UnsurprisinglyPoliziano’sEp.VIII,13,addressedto

thebishopofSilvesD.JorgedaCosta,hasnotbeencited inchapters1and5.

Indeed, hitherto it has been overlooked byPortuguese historians, even if an

importantkeytounderstandingdaCosta’sbookcollecting(cf.27n.24),andPoli‐

ziano’sinfluenceonPortuguesehumanism.SeeineffectOLIVA(2006).3)Tarrío

errsrepeatedlyinn.24:forGiovanniBattistaAlbertireadLeonBattista—;not

Flavio Biondo’s Italia illustrata is listed in the Braga inventory but his Roma

triumphans(undoubtedlytheed.Brescia:Bart.Vercellensis,1482;cf.COSTA(1985)

n°160);theinventorydoeslisttheworksofLorenzoVallaandFrancescoFilelfo

(cf.ID.39,nos17,268).

Chapter6

AlthoughthenumberofannotatorsactiveinInc.992istobeconfirmed,

thescholaraddingthenoteBracarorumprobablydidsoafter1531:inchapter14

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (42)

420

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

ofbook3hereferstoanemendationinBeatusRhenanus’sRerumgermanicarum

first issued in that year (CTC (1960‐2014) 4.367; a copy of the 1st ed. isBNP,

RES.2370//2A).Othermarginaliacite,i.a.,Budaeus’popularDeasse—firstissued

in1515—,andHomer;severalareinagoodGreekhand.Also,aspecialistought

toexaminestyleandiconographyofthefineilluminatedinitialofLb.1,app.not

recorded in the scholarly literature.Remarkable, inparticular, is thenecklace

wornbytheprincipleornamentalfigure.

Chapter7

1)Petrarch,ratherthanLivy,mayeffectivelyprovidetheidealbackdrop

to the Cancioneiro composition «Soube vencer etc.» by Sá deMeneses. The

Florentine,exemplarypoetandintellectual,usedLiv.22.51.4(book12referred

tobyTarrío,isnotextant!)forthefirstlinesofRVF103andtheopeningofEp.

fam. 3.3 (PETRARCA (1993) 16—17). Both sonnet and letter are transmitted in

manuscriptandprint,withSebastianBrant’s1496Baseled.theonlypre—1500

witnesstothesetextsatpresentpreservedinPortugal.ThecopiesBNP,Inc.68

andBPADE,Inc.179mayeventuallybeofinterest:SULMENDES(1988)n°996(n°

995,prob.onlyarrivedinthecountryafter1694);ID.(1995)1.1403.2)Inviewof

Tarrío’sexaminationofInc.832inchapter2itseemsrelevanttopointoutthat

Inc. 524, discussed in this section, preserves 16th c. marginalia relating to

grammar, textcorrection,meaningandhistoricalcontent.Theyarebyseveral

readers, and some notes are in Portuguese and/or Spanish (e.g. Liv. 1.38.2:

utensilia/«alfayas»,forwhichseeFRANCHINI(1993)194;Cancioneiro(1910—1917)

2.350).Ona fewpagesan intriguingsystemofmarginal reference lettersand

symbolshasbeenaddedthatremainstobedecoded.3)ThebindingofInc.524

sharescharacteristicswiththeoneofInc.1035(ch.5).

Chapter10

Tarrío’sreference(57)toCOSTA(1985)isinjudicious.Asamatteroffact,

itemn°16ofthe1612inventoryoftheSéofBragathatCostacommentsupon,the

«[…]livrodeletraimpresa,queseintitullaSomniumScipionisexCiceronislibro

deRepublica excerptum, imresso emBellonhano,digo impressonoannode

148…», isnotacopyofCicero,butofMacrobiusandundoubtedlyoneof the

editions issued in Brescia in the 1480s per Boninum de Boninis (cf. ISTC).

Presumablythecompileroftheinventorymisunderstoodthenameoftheprinter

forthecityofproduction(Bononis/Bononia).Thetitlealsofitseachofthe1480s

editions Boninus prepared; only the imprecise date of impression cannot be

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (43)

Recensõesenotíciasbibliográficas

421

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

readilyexplained.InPortugalseveralexemplarsofBoninus’editionsareextant,

forwhichseeSULMENDES(1988)nos802—804,andID.(1995)1.1138—1139.

Chapter11

1)Theannotation in Inc.462discussedbyTarrío (61)actually reads .c.

procul dubio cibo duo, andwhether the reader – one of the Teixeira—was

interestedinmedicineorpharmacyis,parconsequence,nottheissue.Thenote,

accompanyingPlin.,Nat.20.211prociduo(inn.132Tarríoonlyprovidesthequire

signature;indicationofeitherpassageorBNPe‐copyimage335wouldhavebeen

helpful),simply relates toPoliziano’smethodologyand teaching:heused the

siglum “c” for readings from theCodex regiuswhichhe examinedduringhis

classes(seesupra;FERAinLeitores;TARRÍO2007)!2)Confusingare,moreover,the

referencesinn.132andthetexttothemarginaliapleureticis,inguinariaargemon,

etc.Are thesenotes tobe found in Inc.462or in Inc.1483,andwhichNatural

Historypassagesaretheseannotationstiedto?!3)Thereferenceonp.62toInc.

523isirrelevant–cf.mycommentssupra.

Chapter12

For a comprehensive discussion of the historiographic conceptQuinto

ImpérioseeTRAVASSOSVALDEZ(2011)17‐32,38‐42,318‐319.

Catálogodeexemplares

1:CIBNLisboanosgiveninthiscatalogueareactuallythoseofanotherpublication,

thatisSULMENDES1995.2)AtCat.n°10readInc.992,notInc.922.

Lit.:13

BITAGAP(1997‐2014),BibliografiadeTextosAntigosGalegosePortugueses.Berkeley,

Regents of the University of California (http://bancroft.berkeley.edu/

philobiblon/bitagap_en.html)

BUESCU,A.(2007),“Livrose livrariasdereisepríncipesentreosséculosXVe

XVI.Algumasnotas”:eHumanista8(2007)143‐170*

Cancioneiro(1910‐1917),CancioneiroGeraldeGarciadeResende.Ed.A.J.Gonçálves

GUIMARÃES.5vols.Coimbra,Impr.daUniversidade.

CASELLA,M.T. (1975), “Ilmetodo dei commentatori umanistici esemplato sul

Beroaldo”:Studimedievalis.316.2(1975)627‐701*

COSTA,A.Jesusda(1985),AbibliotecaeotesourodaSédeBraganosséculosXVa

XVII.Braga,s.n.*

13Titlesfollowedbya*arecitedinLeitores(cf.101‐107).

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (44)

422

Recensõesenotíciasbibliográficas

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

COSTA,A.Jesusda(1993),“D.DiogodeSousa,novofundadordeBragaegrande

mecenasdecultura”:HomenagemàArquidiocesePrimaznos900anosdadedicação

daCatedral,Braga,4‐5v1990.Lisboa,AHP,15‐117*

CTC (1960‐2014), Catalogus Translationum et Commentariorum.Mediaeval and

Renaissance Latin Translations and Commentaries. Annotated Lists and

Guides.10vols.Toronto,PIMS*

DESWARTE‐ROSAL,S.(2016),“SousladictéedelaSibylle.ÉpigraphieetPoésie.Un

exemplairedesEpigrammataAntiquaeUrbisannotéparAndrédeResendeet

FranciscodeHolanda”:G.GONZÁLEZGERMAIN (coord.),Peregrinationes ad

inscriptiones colligendas. Estudios sobre epigrafia de tradición manuscrita.

Barcelona,UAB,73‐134

FERA,V. (1983),Una ignotaExpositioSuetonidelPoliziano.Messina,Centrodi

StudiUmanistici*

FRANCHINI,E.(1993),Elmanuscrito,lalenguayelserliterariodelaRazóndeAmor.

Madrid,CSIC

HANKINS, J. (1997), Repertorium brunianum:A CriticalGuide to theWritings of

LeonardoBruni,Roma,ISIME

HANKINS,J.(2006),“ThePopularizationofHumanismintheFifteenthCentury.

TheWritings of Leonardo Bruni in Latin and theVernacular”: L.NAUTA

(coord.),LanguageandCulturalChange.AspectsoftheStudyandUseofLanguage

intheLaterMiddleAgesandtheRenaissance.Leuven,Peeters,133‐147

HANKINS, J. (2014), “Civic Knighthood in the Early Renaissance: Leonardo

Bruni’sDemilitia(ca.1420)”:Noctua1.2(2014)260‐82

ISTC, Incunabula Short Title Catalogue, London, The British Library Board

(http://istc.bl.uk/)

JIMÉNEZSANCRISTÓBAL,M.(2005),“ElisagogiconmoralisdisciplinaedeLeonardo

BruniAretinoysudifusiónenEspaña:notasparaelestudiodedosversiones

castellanascuatrocentistas”:P.P.CONDEPARRADO,I.VELÁZQUEZ(coord.),La

filologíalatina.Milañosmás.Burgos:ILCYL/Madrid:SELat,1225‐1242

MARIANO, B.M. “«Antonii Volsci Expositiones in Heroidas Ovidii»: Alcuni

appunti”:Aevum57.1(1993)105‐112.

NASCIMENTO,A.A. (1998), “D.Diogo de Sousa (1460‐1532), bispo do Porto,

homemdelivroseleitordeSavonarola”:Humanitas50(1998)701‐708*

OLIVA, A. M. (2006), “Breve nota su Jorge da Costa fratello del cardinale

lusitano”:RomanelRinascimentos.n.(2006)75‐86

PADE,M.(2007),TheReceptionofPlutarch’sLivesinFifteenth‐CenturyItaly.2vols.

Copenhagen,MuseumTusculanum*

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (45)

Recensõesenotíciasbibliográficas

423

Ágora.EstudosClássicosemDebate20(2018)

PETRARCA, Francesco (1993), Le familiari. Libro terzo. DOTTI, U. (ed.). Roma,

ArchivioIzzi,

PINAMARTINS, J.V. de (coord.) (1994), Edições aldinas da BN séculosXV‐XVI.

Lisboa,BNP

POLITIANUS,Angelus (1498),Omnia opera Angeli Politiani […]. Ed.Alexander

Sartius.Venezia,AldusManutius(ISTCip00886000).ReprintRoma,Editrice

Bibliopola,s.d.[1968]

SULMENDES,M.V.(coord.)(1988),CatálogodeincunábulosdaBibliotecaNacional.

Lisboa,BNP*

SULMENDES,M. V. (coord.) (1995),Os incunábulos das bibliotecas portuguesas.

2vols.Lisboa,Sec.EstadodaCultura/Inst.BNPedoLivro.

TARRÍO, A. M. S. (2002), “O obscuro fidalgo João Rodrigues de Lucena”:

Euphrosyne.RevistadeFilologiaClássica30(2002),371‐384*

TARRÍO,A.M.S.(2007),“OCommentumdeMartinhodeFigueiredo(1529)eas

lições plinianas de Poliziano (Naturalis Historia, Bodleian Library Auct.

Q.1.2)”:A.A.NASCIMENTO (coord.),Osclássicosnotempo:PlíniooVelho,eo

HumanismoPortuguês.ActasdoColóquioInternacional,Lisboa,31iii2006.Lisboa:

CEC‐FLUL,95‐110*

THIERMANN,P.(1993),DieOrationesHomeridesLeonardoBruniAretino.Kritische

Edition der lateinischen und kastilianischen Übersetzung mit Prolegomena und

Kommentar.Leiden,Brill*

TRAVASSOSVALDEZ,M.A.(2011),HistoricalInterpretationsofthe“FifthEmpire”:

theDynamicsofPeriodizationfromDanieltoAntónioVieira,S.J.Leiden,Brill

VAN BINNEBEKE, X. (2009‐10), “Manoscritti di Coluccio Salutati nella

StadtbibliothekdiNorimberga”:Studimedievalieumanistici7(2009‐10)1‐28

VANBINNEBEKE,X. (2012), “Autograph corrections and ahithertounrecorded

dedicationbyLeonardoBruniinaBodleiancopyoftheDeprimobellopunico”:

X.vanBinnebeke,SixContributions toFlorentineHumanism fromSalutati to

Poliziano.Messina,Univ.(unpublishedPh.D.thesis),51‐71

VITERBO, F. Sousa (1901), “A livraria real especialmente no reinado de

D.Manuel”:HistóriaeMemóriasdaAcademiaRealdasSciênciasdeLisboa,Classe

deSciênciasMoraes,n.s.,9.1(1901),sep.*

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ...· Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (46)

C. Morais, L. Hardwick, and M. de F. Silva, (Eds.). (2017 ... · Jean Anouilh. A reflexão da A. incide sobre as novidades que Anouilh introduziu ... Antigone in Maria Zambrano”, - [PDF Document] (2024)
Top Articles
Latest Posts
Article information

Author: Kieth Sipes

Last Updated:

Views: 5827

Rating: 4.7 / 5 (47 voted)

Reviews: 94% of readers found this page helpful

Author information

Name: Kieth Sipes

Birthday: 2001-04-14

Address: Suite 492 62479 Champlin Loop, South Catrice, MS 57271

Phone: +9663362133320

Job: District Sales Analyst

Hobby: Digital arts, Dance, Ghost hunting, Worldbuilding, Kayaking, Table tennis, 3D printing

Introduction: My name is Kieth Sipes, I am a zany, rich, courageous, powerful, faithful, jolly, excited person who loves writing and wants to share my knowledge and understanding with you.